Quem espera sempre alcança - Capítulo II

Quando terminou a aula, mamãe estava no portão a minha espera.

- Tudo bem, filhinha? - perguntou ela me beijando.

- Tudo bem, mamãe, nunca estive tão bem. Só estou um pouco desatualizada das aulas. - disse sorrindo e retribuindo-lhe o beijo.

- Não tem importância, meu amor. Eu telefono para a Margarida e ela manda a Juliana lá em casa com toda a matéria e passa tudo para você. Você mesma diz que a Juliana é a segunda aluna da classe, a primeira sempre foi você, não é? - disse mamãe orgulhosa.

- Não é assim, mamãe, em algumas matérias eu sou a primeira, mas em outras, por exemplo, Matemática não é o meu forte. Inclusive, mamãe, a primeira em Matemática é a Silvinha. Mamãe, posso ir procurá-la para que ela me passe a matéria? Assim eu aproveito para tomar um ar mais livre, porque há dias não saio de casa. - falei torcendo para que mamãe me liberasse.

- oh! Que pena, querida, hoje eu tenho que ir à creche de Santa Tereza e vou passar a tarde toda lá e não posso acompanhá-la. Mas o motorista te leva, tá? Eu só não quero que você se atrase.

Chegamos em casa e logo mamãe saiu.

Mamãe é uma pessoa muito caridosa, mantinha vinte e oito creches espalhadas por todo o Estado. Ela era responsável pela alimentação, vestuário, assistência médica e dentária das crianças, além de dar uma cesta de alimentos, uma vez por mês às famílias de uma favela na nossa cidade.

Fiquei livre! Papai já há três semanas estava em Porto Alegre e não voltaria naquele dia.

A uma e meia pedi ao motorista para me levar até a praça.

- Ah! É ali naquela casa Aberval. - apontei para uma casa qualquer.

- Pode me deixar aqui. - falei.

- Eu espero ali no estacionamento, dona Cidinha. - disse o motorista.

- Que é isso, Aberval, de jeito nenhum, você deve ter muito o que fazer, pode ir embora, o assunto que eu tenho a tratar com minha colega é muito demorado. Quando terminar o motorista dela me leva tá? Obrigada! Até logo. - falei descendo do carro.

O motorista foi embora.

Quando olhei para o lado, vi Rogério sentado no banco da praça.

Fomos para um lugar bem discreto, onde ninguém passava.

Conversamos a tarde toda, quando demos por conta já estava escurecendo.

Pegamos um taxi, ele me deixou na frente da minha casa. Despedi-me e ele foi embora.

Quando entrei em casa, tomei um susto. Era a voz de Laura:

- O motorista da sua colega trabalha é com taxi? - falou com voz agressiva.

Não! É porque na hora que íamos saindo o carro deu um defeito e eu peguei um taxi. - disse com a voz trêmula.

- Engraçado! O motorista veio fazer-lhe companhia? - falou novamente mais agressiva ainda.

- Olha aqui, Laura, eu não tenho satisfações a lhe dar, tá? Venho com quem eu quiser, a hora que quiser e da maneira que quiser. - falei com voz firme e fui correndo para o meu quarto e ainda escutei Laura falar:

- Guria mal criada, vi nascer e agora me trata desta maneira, o mal é que dona Ana e seu Olegário a trata como princesa. Queria ver se fosse filha de gente pobre, se não era educada com as pessoas. Deixa sua mãe chegar que vou contar tudo pra ela. - falou Laura já gritando.

Não respondi. Entrei em meu quarto, tranquei a porta. Ajoelhei na beira da cama e rezei.

- Meu Deus, meu Senhor, não deixe ninguém interferir entre eu e Rogério. O Senhor mesmo é testemunha, meu Deus, que nosso amor é puro e verdadeiro. - rezei com muita fé.

Meia hora depois mamãe chegou, foi tomar banho. Enquanto tomava banho papai chegou também.

Meu coração batia forte de temor que Laura contasse alguma coisa. Felizmente ela não tocou no assunto.

Eu e Rogério passamos a nos encontrar mais vezes, cada vez mais apaixonados.

- Aparecida, eu acho que devemos falar com seus pais. - falava-me todas as vezes que nos encontrávamos. E eu sempre recusava com medo que papai nos separasse bruscamente.

Eu vivia muito feliz.

Mamãe ficava muito alegre com a minha felicidade, mas não desconfiava que isto era amor.

Sempre dava um jeitinho para me encontrar com Rogério,mas sempre tomando muito cuidado para não ser vista com ele.

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 21/07/2006
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