MALÁRIA.

MALARIA.

(Zésouza)

Chove, outro toró. A selva renasce, nasce, rebrota, brota. Calor, umidade. Não chega um avião na clareira do garimpo. Tempo das chuvas. Tá com a febre. Cortando pelo meio da mata, até a corrutela de cinco a seis dias; quem conhece o caminho. A mata é traiçoeira e o Currupira enreda o rastro. Muita febre, o figado duro; precisa de soro e quinino: só na corrutela. Conhece o caminho os "Xepeiros" os que trazem a comida. Não tá nenhum no garimpo. Tão com as quengas na corrutela. Sai mato a dentro. Chuva, febre, cai aqui, levanta ali.

Quantos dias? Ta muito fraco. Anda na volta o safado do Currupira. A selva é muito quente ele treme de frio de bater queixo, jogado num monte de folhas. Passou o frio, esta tonto e perdido. Outra fase a febre o calor. Senta junto o majestoso tronco da Castanheira. O calor aumenta. Sede, água. O Araguaia; é o Araguaia tá na praia a areia é quente, não consegue se mover. Passa o jegue arrastando a pipa, cai água não alcança a caatinga queima, tá caído. Corre contente na vila do Juacema, vendeu umbu no trem da leste, a mãe sorri na porta. Mainha.

- Mainha eu tô sofrendo, leva eu mais você...

O sol tá quente, o ouriço da castanheira, desprende do galho, pesa um quilo, cai de setenta metros bem no meio da cabeça.

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Zésouza
Enviado por Zésouza em 25/12/2009
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