O ANJO

A babá de Francisco Neto precisa ter pulso forte, pois, com cinco anos, ele tem respostas na ponta da língua. “Francisco, não seja burro comigo.” “Burra é a sua mãe!” “Você vai ficar fraquinho, comendo besteiras.” “Fraca é a sua mãe, aquela velhinha da cabeça branca!” Certo dia. “Meu filho, amanhã vamos levar a Sílvia em casa e dar um presente à mãezinha dela”. O garoto ajoelhou-se aos pés da moça e implorou: “Pelo amor de Deus, não conta nada pra sua mãe, viu?” “Não sei, não.” “Pôxa, Sílvia, eu gosto tanto de você!” “Vou ver como você vai se comportar lá em casa.” Em Vista da Serra, Neto desceu do carro correndo, deu o presente à Ilda, um beijinho e ficou quieto. Até o momento de se despedirem, ele não disse uma palavra sequer e andou devagarinho dentro de casa, como se fosse um anjo. O filho de Leninha e Tom encantou a todos, menos a Sônia, irmã da babá, que trabalha com sua avó. “É Francisco, a mim você não engana.”