NUM LAÇO DE CETIM BRANCO...

Seguindo pela vida e em vários momentos especiais dela,inclusive durante a nossa atuação profissional, vez ou outra ganhamos alguns presentes que nos tocam a alma e ficam para sempre gravados na memória do coração.

Sou daquelas pessoas que guardo todos os presentes, porque sempre nos contam algo da vida e através deles sempre viajamos pela nossa história.

E foi olhando para uma parede da minha casa que hoje ternamente me lembrei dela, alguém cujo contato pessoal e profissional ocorreu há mais ou menos quinze anos, durante um frio final de tarde.

Artista plástica nascida na Alemanha, meia idade, compunha um visual exótico e elegante, daquelas mulheres altas e magras, de fala mansa, de postura impecável e rígida, porém de pouca conversa.

Procurou-me no meu agitado recinto do trabalho e me entregou um pacotinho amarelo, arrematado num laço de cetim branco.

-É pra você, foi bom te conhecer e muito obrigada por, naquele dia, ter aliviado a minha dor.

Abri o presente, e lá estavam duas pequenas telas, talvez de trinta por quinze centímetros cada, aonde se delineavam amores- perfeitos lilazes dentro dum pequeno vaso e noutra, amores -perfeitos amarelos, soltos ao vento...como se alçassem voo da tela ,ambos quadros em pintura terna e suavemente aquarelada.

Sem saber havia me presenteado com uma duas das minhas paixões: as aquarelas e os amores-perfeitos.

As aquarelas porque são só delicadezas e as referidas flores porque a mim simbolizam o como deveriam ser os amores.

Agradeci e lhe expliquei sobre o acerto do seu presente.

Esboçou-me um sorriso curto e um parco aperto de mão, que senti que os conseguiu com um esforço sobrenatural.

E então se foi para casa...a desatar o seu laço de cetim branco, no mesmo voo dos amores- perfeitos amarelos.

Soube que faleceu naquela noite.