O velho jovem

O VELHO JOVEM

Dezembro/2010.

Newton Schner Jr.

Trabalhava sozinho. Fazia, na verdade, seus serviços que o cotidiano corrido lhe havia impedido. O aparelho de som, que um amigo não mais usava, era a ponte através da qual andava de encontro às suas reflexões. Através dele, músicas antigas soavam. Suas letras e melodias? Talvez não fossem tão interessantes. Mas ah, que sensações!

Ele havia voltado de um almoço. Era Natal. Antes, visitava sua avó. Tudo estava tão quieto e agradável. Quão feliz ela ficara, ao vê-lo na companhia de um amigo, vindo de outro país, além de sua namorada e sua própria filha! Ali, entre as pessoas mais velhas, ele se sentia tão em casa. Falara sobre o quanto havia mudado, sobre comidas e sua família como um todo. Não era cristão, mas, por bondade da sua natureza, dera-lhe um presente.

Da casa de sua avó, seguira a outro lugar. Lá, estava sua mãe. Ele se sentia triste. Não sabia se havia acordado cedo demais ou se estava cansado. Procurava respostas para aquele seu isolamento e toda sua reprovação à energia daquele lugar. Bebidas. Música alta. Rapazes que conversavam sobre futebol. Crianças gritavam. Cães. Calor. Comida. "Não", dizia ele para si mesmo, "eu não posso e não quero ficar aqui. Eu não pertenço a esse mundo". Mas ah, quão novo era ele para sentir-se assim!

Sobre a pia de louças, em uma tarde de Natal, ele refletia. Sentia que poderia chorar. Por um instante, o mundo passou aos seus olhos de modo tão depressa. Talvez nem tudo tivesse sido tão ruim. Mas, sem que soubesse o porquê, acordada com predisposição a enxergar o mundo de outra maneira.

Ele se perguntava: "Por que me sinto tão bem entre os mais velhos? Por que a minha própria geração só me causa aborrecimento? Sinto como se meu espírito não pertencesse a esta época. Mas, ah... Como mudei! Basta que eu olhe fotos antigas, de três ou quatro anos, no auge da adolescência, para dizer: 'Não, aquele não fui eu'. Não no sentido de negar o meu próprio passado, mas por reconhecer que a diferença é capaz de fazer-me pensar que não sou o mesmo... Por que me sinto tão bem, tão acolhido entre os mais velhos? Neste sentido, sou o oposto de Nietzsche. Dizia ele se orgulhar por estar à frente de seu tempo. Eu, no entanto, posso dizer que meu espírito é quase todo atrás do tempo. Tenho a impressão de que minha geração é outra... Ma ah, que bom ser assim! Novo de físico, mas velho de espírito. Não no sentido de um espírito deteriorado, fraco, morto pelo tempo... E sim algo que o conduz a perceber as coisas sob outra ótica".

Queria ele encontrar explicações por sua atração pelo passado. Não apenas suas origens, sua descendência e o que herdara de seus antepassados. Queria, também, respirar o mesmo ar dos mais velhos. Mexer em objetos postos em um baú, trazido faz muito tempo, do outro lado mundo. Um baú em que as novas gerações, acostumadas com a modernidade, já não vêem curiosidade ou interesse.

E nada como uma situação simples, do cotidiano, como caso de um trabalho doméstico, para fazê-lo pensar a respeito. Naquela tarde, suas mãos pareciam seguir regras quase que computadorizadas. Por instantes, sequer ele se dava conta do lugar onde estava. Chegou a ser, por uma fração de segundos, parte da melodia que ouvia. Pertenceu a um pedaço do seu passado, onde, em determinada situação, ouviu aquela mesma canção que lhe dizia: "Você sempre será um jovem". Pensava: "Que tarde... Que realização! Quantas pessoas ainda não devem ter descoberto que, às vezes, podemos nos ocupar do nosso próprio passado!".

Era, enfim, nas gerações velhas que ele - enraizado ao seu espírito - se encontrava. Era com eles que queria se encontrar. Era com eles que queria conversar, contar e ouvir histórias. Beber chimarrão. Falar sobre boas épocas que ele não chegou a conhecer. Compartilhar opiniões. E mostrar que com eles, ele havia aprendido muito. No constante regresso humano, queria ele, através das velhas pessoas que conhecia, respirar um pouco dos velhos tempos. Pois era nas prateleiras dos velhos livros, aqueles que já não são mais editados e lançados, aqueles que até mesmo as páginas se grudaram com o passar dos anos, onde ele queria mergulhar. Sua impressão era a de que ele não pertencia à sua própria época.

Newton Schner Jr
Enviado por Newton Schner Jr em 14/01/2010
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