Capoeira

Tinha então treze anos quando entrou pra capoeira. No dia em que seus pais levaram pra ingressar nas aulas aquele pequeno e mirrado menino, franzino, e levemente assustado, não tinha idéia do universo que se estenderia à sua frente, ao qual logo faria parte. A música, o ritmo, a aventura e o perigo de cada jogo praticado na roda lhe encantavam e ali, no interior daquele circulo de palmas a canto, descobriu o seu lado fera, caçador, guerreiro, e também cordial. No meio da brincadeira também descobriu o amor, e logo se viu obrigado a por em prática toda a perspicácia e agilidade que ia aprendendo na arte da paixão.

Tudo para ele era ainda um mistério infinito. Estar ali era a realização do ato poético da aventura de viver. Sentia-se forte e desejoso de testar sua velocidade e força, ao mesmo tempo em que se sentia frágil e então aplicava todo seu reflexo nas esquivas dos golpes lançados contra ele. Ali ele era ginasta, era lutador, era palhaço e artista. Era tudo, era o seu coração, a alegria de se permitir brincar, e vê no adversário a sua frente, acima de tudo o amigo. Porque a magia que se realizava ali era fruto da união dos esforços, e da alegria, de todos. Não era preciso possuir a pequena esfera da loucura ao qual pertence aos gênios para entender que uma terra que tenha fecundado e gerado tamanha magia, segredo inacessível à completa razão, é, de fato, sagrada, bendita, iluminada.

O garoto, antes franzino moleque encruado, agora voava, como falcão, cortando o ar com seus pés de faca, a girar no ar e escorregar no chão. A fazer o impossível, e o que mais fosse preciso, para cativar o coração arisco, da menina mais linda que seus olhos haviam testemunhado. Sob a lua cheia, as cantigas e as palmas, rezava aquele espontâneo e inundado amor.

Gregório Borges
Enviado por Gregório Borges em 17/01/2010
Código do texto: T2034701
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