Aconteceu com minha mãe...

No ano de 1953, Anita chegou ao Rio de Janeiro com 20 anos de idade. Gerada e criada no interior do Rio Grande do Norte. Essa criança adulta,semianalfabeta, grávida e desamparada, deparou-se com a Selva de Pedra.

Sem meios de subsistência vagou por esta cidade. Pediu esmolas, dormiu nos bancos das praças, nos trens, enfim, passou por muitas situações realmente constrangedoras.

Sua gestação foi assim, sofrida, no meio de pessoas estranhas, sujeitando-se a caridade de uns e o desprezo de muitos.

Na hora do seu parto, foi levada à uma maternidade pública e lá deu a luz a duas crianças, um menino e uma menina. Logo ficou ciente que menino havia falecido e só a menina havia sobrevivido. Ali permaneceu por alguns dias até ser dispensada com sua filha nos braços.

Sem saber para onde ir e o que fazer vagou até sentar-se em uma praça. Amamentou sua filha com seu leite. O único recurso que possuía. Que Deus em sua infinita sabedoria deu de graça as mães, para que possam alimentar seus filhos.Não possuía uma fralda, não tinha onde banhar-se , muito menos ainda como limpar aquela criança.

Sentiu o desespero daquela dura realidade. E ali ficou sentada,sem saber o que fazer.

Foi quando, como por um milagre, aproximaram-se duas mulheres e começaram a indagar o que ela estava fazendo ali a tanto tempo com aquela criança nos braços.

Contou tudo e foi levada para a casa de uma delas.

Essa senhora possuía um estabelecimento, servia refeições para às pessoas.

Ali permaneceu por algum tempo. Chegou até a trabalhar lá. Foi quando a mulher que a ajudou conversou e pediu se poderia adotar aquela criança, pois na realidade ela não poderia criá-la. Não tinha condições de dar uma vida digna e decente, vivendo assim na rua.

Foi quando essa mãe,ciente de sua situação e sabendo que realmente aquela senhora tinha razão. Disse o sim.

Seria certamente o melhor para sua filha. E antes de partir, perguntou:

-Um dia ela saberá a verdade?

A resposta foi que se ela quisesse saber, com certeza saberia de tudo.

Venho através desse depoimento dizer a minha irmã, que sua doação e adoção foi um ato de amor.

Quem relata o fato é sua irmã.

Sei que seu nome é Vera Lúcia Barros e que morava perto da Cruz Vermelha, Rio de Janeiro.

Você nasceu em 13 de agosto de 1954.

Sou uma guerreira e sobrevivente e você também...

E gostaria que ficasse no seu coração:

Pai e mãe são as pessoas que criam e educam.

Nossa mãe já faleceu e era uma pessoa maravilhosa...

Maria Eugenia.