O BANQUEIRO E O PROFESSOR

     A batida, apesar de forte, não causou vítimas. Os veículos ficaram amassados. O corola do banqueiro nem tanto, mas o fusquinha do professor de português ficou igual a um maracujá. O banqueiro avançara o sinal vermelho de forma irresponsável.
     – O Senhor não sabe que no momento em que o semáforo se encontra subordinado ao vermelho ele é intransitivo? – perguntou o professor ao banqueiro.
     – Sei, sim! O percentual de sinais que ultrapasso no vermelho por dia me dá um saldo favorável de tempo para cuidar dos meus negócios.
     – Percebo que, apesar de sua preposição de homem de negócios, você é um sujeito indeterminado, sem predicativos!
     – Engano seu! Ninguém dirige melhor do que eu: dirijo um banco, dirijo uma corretora de seguros, dirijo bem a palavra e dirijo o meu carro com aplicação.
     – Estou vendo que você tem como objeto direto querer transformar o verbo dirigir em defectivo, deixando-o apenas com a primeira pessoa do singular. Não posso entrar em concordância verbal com a sua forma de agir. Em conjunção com isso vamos falar em numeral, porque eu quero ser ressarcido.
     – Agora quer me colocar em xeque? Olhe, eu sou um homem passivo, mas juros que ninguém vai me obrigar a lançar mão das minhas reservas cambiais para pagar débitos de cliente cuja falência já foi decretada há muito tempo pelo governo.
     Ao perceber a aproximação de um guarda de trânsito, o professor acalmou-se, enquanto o banqueiro se preparava para partir. 
     – O que foi que aconteceu aqui com essas duas viaturas? – perguntou o guarda
     - Foi esse sujeito, composto por irresponsabilidade, que avançou de forma superlativa o semáforo, que se encontrava subordinado ao vermelho, e atingiu o meu fusquinha de forma direta. Espero que o senhor faça uma análise e aplique os artigos correspondentes às infrações – apelou o professor.
     – Positivo! – disse o guarda, enquanto se dirigia ao banqueiro.
     – Dê-me a sua carteira de habilitação e os documentos do veículo – ordenou o guarda ao banqueiro.
     – Olhe seu guarda, o meu cadastro e o do carro estão vencidos, mas se você não fizer uma aplicação da correção, ou usar uma redução da alíquota, amortizando, assim, o meu possível débito, eu posso até fazer uma aplicação no banco e aumentar os seus fundos.
-      Negativo! – respondeu o guarda irritado – Você além de cometer graves infrações de trânsito, ainda está desrespeitando uma autoridade policial. O regulamento é bem claro e diz que se um elemento agir dessa forma, o carro deverá ser apreendido, ele autuado em flagrante e conduzido numa viatura para ser recolhido à prisão. É vá cuidar do fundo de outro! Ora bolas!