Sobre homens e livros

O homem abriu o livro. Não com a intenção de lê-lo ou de aprender algo com isso, simplesmente, mecanicamente, o homem abriu o livro. Ele, o homem, possuía um aspecto rude. Olhos com lágrimas por cair, mas que nunca caem e mãos com calos por se formar, mas que nunca se formam. Corpo com curvas por se definir, mas que nunca se definem, pernas com músculos por quase andar, mas que nunca andam.

O homem, este homem banal, medíocre e um tanto quanto comum, abriu o livro. E seus cabelos, com fios por se tornar brancos mas que nunca se tornam, caíram sobre seu olho quando ele, levemente, inclinou a cabeça para baixo. Uma cabeça grande por quase pensar.

E ele leu. Ele leu, e digeriu com a sua alma, que por quase brilhar se fazia humana, cada palavra daquele escrito. Não se sabe se em prosa ou em verso, mas esse texto desconhecido fez com que suas lagrimas caíssem, seus calos se formassem e seu corpo se definisse. Fez também com que seus cabelos se esbranquiçassem. E esse homem, que antes era quase bonito, se tornou quase feio. Quase feio por ser mais que um homem. Era algo indefinido, uma aberração.

O homem fechou o livro. Não com a intenção de esquecê-lo, simplismente, mecanicamente, o homem fechou o livro. E seus olhos secaram, suas mãos se aveludaram, suas curvas se retorceram e seus cabelos foram invadidos por um negrume descomunal. E sua alma, que por brilhar demais se fazia estranha, foi deixada ali.

Tudo voltou a ser como antes, sua cabeça grande e suas pernas musculosas voltaram a não servir para absolutamente nada. Eram apenas apetrechos de sonho, de um sonho de um homem com os olhos por cerrar, mas que nunca se cerram.

Marilia Westin
Enviado por Marilia Westin em 09/02/2010
Código do texto: T2076995
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