MARCADA - Capítulo X

Desde que nos separamos de mamãe nunca mais a vi. Sabia por boca de estranhos que Dirceu e sua amante estavam aprontando as maiores barbaridades, tanto em Goiânia, como em outras cidades. Tia Marieta de vez em quando a procurava, mas ela não queria saber de ninguém da família, nem se quer perguntava por nós, que relativamente estávamos bem. Cláudio e Sérgio trabalhavam com tio Jordelino no comércio. Patrícia e Juliana trabalhavam com tia Marieta no salão de beleza. Eu no banco. Fiz um curso supletivo. Prestei vestibular para Administração de Empresas e graças a Deus fui bem colocada.

Uns dias antes do nosso casamento fiquei sabendo através dos jornais que mamãe havia sido presa juntamente com Dirceu. Ficamos desesperados, eu e meus irmãos.

Dona Gilda, minha futura sogra era minha segunda mãe. Dividia com ela todos os meus problemas. Ela era uma pessoa muito compreensiva e dava-nos muitos conselhos.

* * *

Enfim chegou o tão esperado dia, o dia do nosso casamento.

- Até que em fim, meu amor! Chegou o nosso dia. Vou poder fazer tudo que planejei! - disse João Netto olhando para mim com os olhos arregalados, muito estranho...

- Tudo que planejou? O que foi que você planejou, João Netto? - falei muito desconfiada.

- Nada! Nada, amor, planejei ter muitos filhos e ser muito feliz e torná-la mais feliz ainda... - falou abraçando e beijando-me.

Fiquei tranqüila, mas alguma coisa me encomodava em João Netto. Não sabia o que era...

- Ah! Então agora vá se arrumar que eu tenho de ir para o salão de tia Marieta me preparar, ficar bem bonita para você, minha paixão!

Aquele dia foi muito corrido para todos, era uma correria sem fim. Todos somente para um fim: "O casamento da Cristina". 22 de setembro de 1970.

Estavam presentes: meus irmãos, os irmãos dele, as cunhadas, meus tios; dois tios de Natal irmãos de papai: tio Lico e tio Francisco.

Sempre me correspondi com meus tios em Natal. Vovó não sabia ainda da morte de papai, pois sofreu um derrame, logo após sua morte e o médico falou que não poderia sofrer emoções fortes. Estava um caquinho em cima da cama...

Faltavam muitos parentes em meu casamento, mas não sentia tanta falta como a de papai. A falta de mamãe eu consegui superar, mas a de papai jamais. Chorei muito durante todo o dia.

- Minha filha, se você continuar chorando assim, vai ficar muito feia com os olhos inchados. - me advertia tia Marieta de vez em quando.

Mas aquilo não estava em mim. Queria muito casar-me com João Netto, mas o medo era maior. Mas enfim, não dava mais para recuar e ao mesmo tempo eu era alucinada por João Netto. Era um amor sobrenatural...

Senti dona Gilda muito triste também, havia chorado muito. Às vezes tinha a impressão que ela queria me dizer alguma coisa, mas não dizia. Impressão minha, à toa...

- Que foi, dona Gilda, a senhora parece não estar satisfeita com o casamento? - falei.

- Não é isso, minha filha, você sabe que eu te adoro!... - falou abraçando-me e choramos as duas.

Chegou finalmente a hora de ir para a igreja. Que emoção!!! Tio Lico levou-me ao altar. Tio Jordelino era muito bom para mim, poderia ter entrado comigo, mas decidiram ser tio Lico, pois era o que mais se parecia fisicamente com papai.

Sinceramente que não vi como entrei, se tremia ou não, se chorava ou não, se andava direito ou não, estava muitíssimo nervosa. Tinha duas sensações: pensava em correr de vez para os braços de João Netto e ao mesmo tempo pensava em correr em direção à porta da saída.

Nos casamos. A festa foi em um clube. Ficamos até a meia noite e saimos escondidos para a lua-de-mel que seria na Argentina, ficaríamos quinze dias, perderia muitas aulas se ficássemos mais tempo.

A viagem foi muito trqüila. Fomos de carro, parávamos em qualquer cidade que desse vontade. Curtimos muito.

Quando chegamos a Montevidéu, foi que minha vida virou de ponta cabeça...

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 03/08/2006
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