MARCADA - Capítulo XII

Um dia amanheci com enjôo de estômago. Tudo que comia voltava. Fiquei assim por uma semana. Fiquei muito fraca e nem assim tive sossego. João Netto não queria saber se estava bem ou não. Só queria lhe satisfazer.

Fui ao médico. Fiz os exames necessários e fiquei sabendo que estava grávida. Fiquei alegre e triste ao mesmo tempo. Alegre pela criança que iria ser minha e triste por ter um pai tão desajustado.

Passei na casa da dona Gilda, contei pra ela, que ficou muito alegre. Passei na casa dos meus irmãos, dei-lhes a notícia, ficaram tão alegres que chegaram a dançar os quatro juntos e me abraçaram e batiam palmas de alegria.

- Parece que você não está alegre, Cristina?

- Estou sim, Juliana, claro que estou muito alegre.

Fui para casa. Fiz o almoço. Quando João Netto chegou:

- João Netto, tenho uma ótima notícia para lhe dar!

- Ah! é? Que notícia?

- Você vai ser papai! - falei andando para o seu lado, tentando abraçá-lo.

- Isto que é ótima notícia? Isto é uma péssima notícia!

- Que é isto, nem diante desse fato você não se comove? Não seja tão duro, tenha um pouco de humanidade!

- Está bem! Se for homem, talvez eu possa considerar como filho, mas se for mulher, eu mato!

- Ai,que horror! Monstro maldito! Você não vai matar coisíssima nenhuma... Seu monstro, Diabo, você é o próprio capeta em figura de gente... - fui interrompida com um soco na boca que cai sentada no chão.

João Netto saiu sem nem almoçar, deixando-me no chão.

* * *

Foi aquele tormento, a minha gravidez!

Fiquei muito doente, parecia que todas as moléstias do mundo vieram para mim.

Mesmo muito doente e fraca era obrigada a manter contatos sexuais. Ele não me poupava, nem implorando por tudo que era mais sagrado. Em vez de engordar cada dia emagrecia mais. Só pedia a Deus a todos os momentos que meu filho não nascesse com problema ou mesmo raquítico.

Quando estava com cinco meses de gestação eu tive uma infecção de urina horrível acentuadíssima. O médico me disse que teria de ficar afastada sexualmente de meu marido pelo menos uns vinte dias para não aumentar a infecção. Não sabia o que fazer, pois João Netto não entenderia. Em conversa com dona Gilda, inventamos uma desculpa.

- João Netto, eu tenho de fazer um estágio em Anápolis, por ser uma cidade industrial e existe todo tipo de empresas que preciso para fazer um estágio bem feito.

- Quanto tempo você vai ficar lá? - falou João Netto sem olhar para mim.

- Terei que ficar um mês, para que eu faça um estágio bem feito.

- Um mês? É tempo demais.

- Vai ser preciso, tenho que ir, senão meu curso fica incompleto.

- Então vá! Pelo menos assim ficarei livre de sua cara por um mês.

- É? Eu acho muito engraçado, se é tanto sacrifício assim ficar olhando para minha cara, por que não se separa de mim, deixando-me em paz?

- Não me separo de você porque não terminei meu plano. - falou sorrindo sinicamente.

- Não terminou seu plano? Que plano? Eu acho que falta agora só me matar, porque toda espécie de tortura você já me fez.

- Toda espécie de tortura!? Você ainda não viu nada!... - João Netto falou dando uma gargalhada que parecia mais era o Diabo de olhos vermelhos. Credo!

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 04/08/2006
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