Um parafusinho de nada...

Aconteceu-me dia desses, uma incrível experiência com a perda de um minúsculo parafuso.

Há algum tempo venho usando esse indesejado, porém indispensável indumentário. Os óculos. Sem esquecer que exceto o meu episódio, esse objeto para quem dele faz uso, vive causando constrangimento.

Vez ou outra, ele sempre nos apronta alguma. Quem nunca sentiu vontade de morrer ou do chão se abrir, quando numa ocasião especial, vestido a caráter e tudo que o figurino exige, no dito momento do discurso, lembra-se de haver esquecido os óculos?

Ou ainda, quando o perdemos. Ah! Que Deus nos acuda! Abrimos gavetas, arquivos, pastas, enfim, procuramos pelo escritório inteiro e nada. Quando já por desistir da infernal caçada, sim porque sem os ditos, a procura é um verdadeiro caos, aí alguém dá aquela risada de sacudir o prédio e aponta para nosso peito:

_Veja só, eles estão aí no seu peito!!

Dessa vez, me aconteceu de quebrar uma das hastes numa brincadeira com os amigos. Não foi exatamente quebrar, pois afinal quando a peguei do chão percebi que apenas havia perdido o parafuso que a prendia.

Chegando em casa, é que começou todo minha comédia. Levei umas duas horas de extrema fadiga, tentando recolocar um novo parafusinho.

Procurei em meus guardados se encontrava óculos mais antigos que pudesse retirar um parafuso para substituí-lo. Parafuso encontrado. Problema continuado. Não havia em toda a casa uma chavinha tão pequena, capaz de encaixar no minúsculo parafuso. Comecei a procura de uma outra ferramenta que substituísse tal chave.

Revirei gavetas, armários, maletas de ferramentas e nada! Por fim lembrei-me da cozinha. Talvez uma faca, uma que tivesse a ponta bem fininha. Exato, encontrei uma ideal pensei. Qual nada, não serviu ainda. Minha ferramenta, além de ter a ponta fininha, precisada ainda ser bem fina em espessura, e as facas eram maciças e grossas. Testei várias, até que encontrei uma escondidinha, lá no fundinho da gaveta e decidi tentar mais uma vez. Eis que a dita faquinha permitiu o encaixe perfeito, para que eu retirasse o parafusinho dos óculos velhos.

Bem, esse exercício foi até fácil de realizar. Difícil, ou melhor, impossível, foi encaixar o parafuso na haste de meus óculos sem o uso destes. E lá fui eu novamente pela casa, à procura de outro par de óculos, visto que os dois dos quais estava de posse estavam momentaneamente sem hastes.

Outra maratona! Mas como se sabe que depois dos “quarenta” não se vive mais sem tal paramento, na minha casa devia ter outros óculos, ainda que de graus menores, o que não demorei em constatar.

Novamente retornei à mesa da cozinha que nesse momento já contava com facas, chaves de fendas, tesouras, arames, em fim, havia se tornado em quase uma oficina.

Meu Deus! Nunca havia parado para pensar, que trocar um parafusinho de nada, pudesse ser tão exaustivo. Já havia mais de uma hora que estava nessa peleja. Fiquei alguns minutos tentando apenas colocá-lo na abertura do encaixe. Meus dedos eram enormes, e quando conseguia pegá-lo, não conseguia enxergá-lo no local. Além de que, tinha que segurar a haste exatamente no eixo dos óculos. Desisti, precisava de uma pinça para levar o bendito parafuso até o local da rosca.

Nova procura pela casa. Encontrada a pinça, retornei à minha improvisada “oficina”. Agora, sim. Sentei, respirei fundo e recomecei o exercício. Conseguia pegar o parafuso e levá-lo ao encaixe, mas ele não entrava. Fiz várias tentativas, não conseguindo, resolvi trocar de óculos. Peguei os meus, levei-os aos olhos para ver se realmente o parafuso era ideal, quando descobri que por uma leve diferença, o miserável era incompatível à rosa da minha haste.

O que me restou foi desmontar minha oficina e esperar pelo dia seguinte, quando o levei em uma ótica. Incrível, foi ver que em menos de um minuto, o funcionário colocou um novo parafuso em meus óculos.

Maria Helena Camilo