MARCADA - Capítulo XV (Último)

Gilda Cristina nasceu no dia 22 de outubro de 1972. Em dezembro do mesmo ano, João Netto aprensentou uns sintomas de uma doença desconhecida pelos médicos. Ele foi internado em um dos melhores hospitais de Goiânia, fizeram tudo quanto foi exame e não descobriu-se nada. Cada vez piorava mais. Apareceram uns caroços pelo corpo todo e tinha pneumonia uma atrás da outra.

Apesar de sua ruindade eu não o abandonei no hospital. No dia 28 de dezembro de 1972, estava chovendo muito, João Netto gritava, que lá de fora do hospital ouvia seus gritos. Gritos terríveis de dor que sentia por todo o corpo, que era só coro e osso...

Cheguei ao hospital como fazia todos os dias ao sair do serviço, passava a noite com ele. Fui chegando e ele me falou:

- Cristina, sei que o que eu estou passando é para pagar tudo de ruim que fiz com você. Eu quero pedir-lhe perdão. Sei que vou morrer logo, não queria levar comigo este peso. Você me perdoa? Fui eu quem colocou veneno no leite de mamãe... eu estava completamente maluco. Por favor, Cristina, me perdoe... e quando nossa filha crescer conte a ela o pai covarde que teve, conte a ela para que não aconteça com ela o que aconteceu com você. Diga a ela que apesar da aparência eu a amava...

Eu estava escutando tudo, encostada no vidro da janela olhando a chuva forte que caía.

João Netto falava com uma voz muito fraca, de repente parou de falar, olhei, ele estava me estendendo a mão. Fui com a mão ao encontro da sua, que estava gelada, ele olhou para mim e cerrou os olhos... Senti que havia morrido.

Chamei os médicos que tentaram fazê-lo voltar com massagens no peito, ma foi inútil...

Havia partido para a eternidade, sem escutar o meu perdão, mas apesar de todas as torturas, consegui perdoar, pois o meu amor permitiu isto e era um doente mental.

Chorei muito, mas Deus há de me perdoar, mas fiquei livre de um monstro de se criou dentro daquela criatura que tanto amei...

* * *

Reuni todos os meus irmãos e lhes contei como foi meu casamento.

Sempre fui a conselheira. Cláudio e Sérgio, têm em mim a irmã, a mãe, a amiga... Patrícia e Juliana nem se fala, sou tudo para elas e pretendo ser assim sempre.

* * *

Hoje, em 1985, estou com trinta e três anos, Cláudio com trinta e um, casou-se, sua esposa, Denise, uma pessoa muito bondosa, instruida, trabalha no Palácio das Esmeraldas, me parece que terão um futuro muito limpo.

Sérgio está agora com vinte e nove anos. Formou-se em odontologia e está noivo de Rachel, casar-se-ão em julho do ano que vem.

Patrícia já é casada há quatro anos, hoje com vinte e sete anos, formou-se também em administração de empresas e trabalha comigo, somos sócias de uma fábrica de bolsas.

Juliana casou-se no ano passado com Miguel, fazendeiro, tem duas fazendas aqui perto de Goiânia e fornece leite para produtos derivados. Juliana formou-se em arquitetura, mas não exerce a profissão.

Esqueci-me de falar a profissão de Cláudio, é também arquiteto e vai muito bem na vida. Ele e Roberto, marido de Patrícia são sócios de uma firma de construção civil.

Gilda Cristina é uma moça muito carinhosa, compreensiva, estudiosa, não me dá preocupação. Ela sabe o que aconteceu comigo e seu pai, nos mínimos detalhes. Não escondi absolutamente nada, mas com muito cuidado para que ela não criasse ódio em sua cabeça. Ela tem muita pena dele.

Mamãe está velha e louca. Encontra-se internada em um manicômio judiciário em São Paulo. Vamos vê-la todos os meses, mas ela não sabe quem somos nós. Por várias vezes entramos na justiça para ver se a tiramos daquele lugar, mas todas as formas que tentamos a resposta é só uma: "Quando lúcida cometeu muitos crimes em companhia do amante."

Meus irmãos estão muito bem financeiramente e psicologicamente, graças a Deus.

Depois da morte de João Netto, já recebi várias propostas de casamente, mas apesar de ter necessidade de um companheiro, fiquei para sempre MARCADA.

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 08/08/2006
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