vida indiferente, indiferença à vida; tanto faz

Lá estava ela numa cena cotidiana de seu dia: compras no supermercado. Andava de um lado pro outro empurrando seu carrinho como se fosse a coisa mais importante do mundo. Arrumava as coisas que precisava comprar como se estivesse arrumando sua vida. Não se dava conta de que haviam outras pessoas naquele lugar, sentia-se o único ser-vivo em meio aqueles seres inanimados. Sentia-se útil.

Terminou suas compras, sentou-se no banco em frente ao supermercado junto do seu carrinho. Estava cansada. Na verdade, fingia-se de cansada, apenas não queria ir pra casa, preferia ficar ali, com o vento frio batendo no rosto, as pessoas passando de um lado para o outro, os dentes batendo por causa do corpo gelado.

Começou a notar que ninguém olhava pra ela. 'Acho que me tornei invisível de tão insignificante que é minha vida', ela pensava; mas acabou notando que ninguém olhava pra ninguém.

Era como se cada um ali fosse um universo distante, nada era comum, ninguém via o outro. 'Talvez assim seja mais fácil, mais simples. É cômodo ser um só no universo, sem precisar se relacionar com os outros'.

Era cômodo pra ela. Era melhor quando não via ninguém. Era bom não ter que trocar olhares, opiniões, respostas...

'Pode ser que eu seja sociopata. Pode ser...ah, mas eu nem ligo. Pprefiro viver assim', levantou-se e pegou o primeiro taxi para, mais uma vez, se fechar em seu mundinho.

Dona Lexotan
Enviado por Dona Lexotan em 08/08/2006
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