A NOITE EM QUE MORRI

Meu nome é Alberta, sou filha de portugueses, meu pai perdeu todo seu negócio, uma mercearia na área próxima da aldeia campista, que foi desapropriada pelo sr. Dulcídio Cardoso e se matou, minha mãe foi para um manicômio, fiquei sozinha, com uns 16 anos comecei a me prostituir, esta fatídica noite, estava com 23 anos, ainda era muito bela, e, apesar dos anos de vida no meretrício, não conseguia me adaptar, não gostava, tinha medo, já tivera sido agredida três vezes e estava me tornando alcóolatra, mas não sabia fazer mais nada, não tinha família, não tinha nada, nem esperança...

A noite tinha sido boa, quatro clientes, todos educados, vou atender o último agora, farda da marinha, rapaz bem afeiçoado, trinta e poucos anos, claro, olhos marcantes, pediu para eu me despir, devagar, enquanto me observa, pergunto se vai tirar sua roupa também, ele me faz um gesto para calar a boca, de forma bem sútil, eu atendo o pedido e lentamente tiro meu vestido, e mais lentamente ainda, minhas peças íntimas.

Ele se despe e deita comigo. Corpo forte, me beija, me abraça com força, começamos o coito. Ele se movimenta de uma forma bem viril, ele sua como um porco em cima de mim, fala coisas desconexas, me agride verbalmente, me aperta, eu começo a dizer que está me machucando, peço para ele ser mais gentil, começo a ficar com muito medo, ele, bruscamente para. Ele não conseguiu consumar o ato, não ejaculou, ele senta nu no chão, como se stivesse em um transe, pergunto se ele quer alguma coisa, água, alguma bebida, ele não profere palavra alguma, permanece por uns dez minutos naquela posição, preimeiro calado, depois como se estivesse rezando.

Coloco minha camisola, pego um conhaque para dispersar o nervosismo e subitamente, ele me golpeia com uma faca, primeiro na barriga, eu caio na cama sem proferir nenhuma palavra, depois ele me golpeia no pescoço, senti uma dor impressionante, sem sentidos, contemplava aquele espetáculo dantesco, eu seminua, esfaqueada em minha cama, o desgraçado nu, rindo e se masturbando, com calma o miserável se limpa, coloca a roupa e vai embora, meu deus... nunca pensei que eu fosse acabar desta forma.

Demorou dois dias até alguém arrombar a porta, eu ainda estava lá observando tudo, vi duas colegas minhas pegarem meus pertences, minhas poucas jóias, herança de minha mãe, um anel e um terço banhado em ouro, vi pegarem algumas de minhas roupas e vi os homens da prefeitura me recolherem, não havia ninguém em meu enterro, pudera, enterrada numa cova rasa, quem iria num enterro assim? Enterro de gente indigente, de mulher da vida.

Hoje sei como as preces me fizeram falta e ainda fazem, nem sei quanto tempo faz ao certo que estou vagando, não penso em vingança, só queria saber porquê aquele calhorda fez isso comigo, não consigo achar paz, as vezes volto até aquele quarto onde morri, mas, geralmente, apenas vago, as vezes acho conforto em algum grupo, as vezes não, só queria compreender ...

Nunca tive a chance de ver ou encontrar meu pai, mas vi minha mãe uma vez, vagando também... eu chorei, tentei agarrá-la, mas ela não me reconheceu...senti muita tristeza...de vê-la desta forma, mas, enfim, de estar também deste jeito, tristeza tal qual da noite em que morri ...

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TEXTO PSICOGRAFADO

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