BICHO RARO

Nossa! Deve ser "bacana" ser bicho raro. Ele toma leite na mamadeira, tem carinho, cama quentinha. O "Seu" Joaquim, dono deste boteco, me deixa ver todo domingo esse programa. E "tem" domingo que vem um monte de gente falando sobre bicho raro. "Seu" Joaquim disse que é bicho que está em "extinchão". Queria tanto tá em "extinchão". Aí eu ia ter comida quentinha, uma cama limpa, um lugar pra morar. Acho muito bonito essa gente pensar em cuidar dos bichos que "tão" em "extinchão". Se eu tivesse uma família, eu também ia cuidar desses bichos. Eu até cuido do Chinho. Chinho é um menininho que dorme aqui na praça comigo. O Chinho é como eu. Não tem casa, nem família. A gente brinca de ser irmão um do outro. Mas ele é meu irmão pequeno. Sabe que eu acho que o Chinho tem 4 anos? É. Ele é muito pequenininho. Às vezes ele fica com medo de bicho papão. Eu já disse a ele que bicho papão não existe. É coisa da imaginação. Tem coisa da imaginação que é ruim. Tem coisa que é boa. Às vezes fico imaginando minha mãe chegando pra me pegar. Bem, eu não sei como ela é, mas imagino, né? ela chega num trem aqui da Central, toda bonita, com sapato alto e bolsa, igual a essas moças que pegam o trem todo dia. Aí ela pára perto de mim e diz: - Marquinhos, mamãe voltou. Vamos, meu amor. Vamos para a nossa casa. Aí eu pergunto a ela se o Chinho pode ir também. Se o Chinho não for, eu não vou. O Chinho precisa de mim. Ele parece com esses bichos raros que eu vejo nesse programa de domingo no boteco do "Seu" Joaquim. Ele precisa que alguém cuide dele, senão não vai sobreviver.

(Texto escrito em 28/08/2005, após ver um programa que mostrava os cuidados que eram tomados com uns filhotes de mico que perderam a mãe)

Maria Maria
Enviado por Maria Maria em 10/08/2006
Reeditado em 10/08/2006
Código do texto: T213306