Noitada em Lisboa

Após um dia de muito trabalho acompanhando os trabalhos do Congresso-Ibero-Americano, resolvemos fazer uma noitada num dos mais tradicionais restaurantes de Lisboa; tradição de muitos anos... Muito vinho com todos aqueles salamaleques; garrafa cortada a fogo, para não prejudicar o paladar do vinho...Muitos fadistas espetaculares e uma cantora misteriosa que não parava de beber vinho branco e fumar, denotando grande ansiedade; meia-noite apagaram-se as luzes e, à luz de velas, se exibiu a extraordinária fadista Maria da Luz; foi emoção e vinho demais! Retornamos ao hotel alta madrugada, tendo dificuldade de dormir, graças aos calores produzidos pelo vinho. Como seria de esperar em tais circunstâncias, no dia seguinte, as palestras na Universidade de Lisboa foram formais, mas senti que tive uma apresentação medíocre, fraca, deixando muito a desejar; isso faz parte da vida; paciência! Chego à conclusão, de que fado não combina com vinho, e os dois não combinam com palestras...

No dia seguinte foi a vez de uma noitada num lugar chamado Estufa Fria (?) coisa de Portugal; para chegar-se ao salão, subia-se uma grande escadaria, onde os garçons, à luz de velas, serviam “petiscos” aos que passavam; finalmente chegou-se ao salão, onde eram servidos vinhos especiais e uma orquestra tocava sem parar, músicas dos repertórios populares internacionais, como Love is a many splendored thing, música que me persegue, há quase meio século, trazendo-me logo à memória, o canastrão William Holden e a desossada Jennifer Jones, vivendo uma história de amor melodramática. Roberto que fazia parte do grupo de conferencistas, depois de tomar um tonel de vinho, convidava tudo que era portuguesa para desfilar na Mangueira; tinha procuração (?) de Dona Zica. Voltamos juntos andando a pé, pela madrugada de Lisboa.