O MENINO QUE QUERIA SER DOUTOR - Capítulo VII

Afinal chegou o grande dia: o dia em que eu iria entrar pela primeira vez em uma escola.

Levantei-me bem cedo, arrumei-me e fiquei esperando alguém levantar. Ouvi ruídos na cozinha, era dona Carolina que já estava passando o café.

Logo depois do café, fomos para a escola. Meu coração estava acelerado, tamanha a emoção!

- Cuide bem do Francisco, filhos, não o deixe sozinho, pois não é acostumado com cidade grande. - falou dona Carolina, passando a mão na minha cabeça.

- Pode deixar, mamãe, nós tomamos conta dele. - falou Eduardo com a voz bem firme.

Chegamos em frente a escola. Toda aquela criançada perto do portão esperando que tocasse o sinal. Para mim foi uma verdadeira emoção.

Tocou o sinal, que ecoou no meu peito e as crianças se encostaram no portão e vinham as professoras com as listas na mão falando o nome dos alunos.

Chegou a professora do 1º ano, Dona Matilde. Chamávamos de dona por respeito, mas era muito jovem, deveria ter uns dezoito anos, era magrinha, os cabelos bem longos e pretos. Era simplesmente encantadora, tratava os alunos como se fossem a coisa mais preciosa de sua vida.

Chamou seus alunos e entre eles estava o meu nome Francisco de Assis da Silva Souza e Augusta Vilas Boas. Outra surpresa para mim. Eu não sabia que aquele seria o primeiro ano de escola de Augusta.

Entramos. Para mim estava sonhando... Eu não acreditava que estava acontecendo comigo.

Aquele dia, como os outros que vieram foram maravilhosos.

* * *

Estava muito bem na escola. Em casa ajudava dona Carolina como ajudava minha mãe na fazenda.

Ocupava todo o meu tempo só para não cair no abismo da saudade que me consumia a cada segundo que ficava me lembrando da minha família.

Ficava horas, ao me deitar, mergulhado em pensamentos: Será que meus irmãos iriam continuar sem escola? Seriam toda a vida meninos sem estudo? Minhas irmãs iriam continuar na fazenda até encontrarem outro coitado e se casariam e teriam filhos, o quanto Deus dava, como meus pais?

Aquilo tudo me fervilhava na cabecinha de criança que não sabia porque me preocupava tanto com o futuro.

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 18/08/2006
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