Noite qualquer

Numa noite qualquer de um dia qualquer, vi uma pessoa qualquer. Ela estava sob a chuva e vestia uma capa branca que cobria todo o seu corpo, deixando ver apenas sua face que de tão branca, parecia fazer parte da capa. Seus olhos, negros como a noite que a noite que os envolvia, contrastavam com o resto de sua figura e me chamavam a atenção pelo brilho incomum, mas pareciam estar perdidos.

Continuei olhando para aquela criatura do outro lado da rua, tentando imaginar por que alguém usaria uma capa de chuva branca, com toda lama e sujeira que existe em uma cidade grande.

Por um momento, um breve momento, nossos olhares se encontraram e eu me senti hipnotizada, presa por uma força que não me permitia mover os olhos. Foi quando eu percebi, que não era uma pessoa qualquer, não era uma noite qualquer, era um anjo, um anjo num ponto de ônibus.

Então tudo se tornou perfeito, tranqüilo e silencioso. Senti uma luz forte se aproximar e cobri os olhos num movimento involuntário. Quando a luz se distanciou, abri os olhos novamente. Era só um desses caminhões de carga que sempre passam de madrugada.

Me voltei imediatamente para onde estava o meu anjo. Ele não estava lá, meu anjo não estava mais lá, talvez ele nunca tenha estado, talvez nada daquilo fosse real.

Comecei a sentir a chuva novamente. E o mundo, que havia se tornado perfeito, se desfez num estante. E a noite voltou a ser apenas...uma noite qualquer.