Eu e a montanha:

Já faz vários dias que eu ando com uns pensamentos estranhos, por exemplo, subir a montanha que fica próxima à cidade onde moro, e foi assim que hoje, resolvi subir ao pico da montanha, peguei um táxi e me dirigi para lá, desci do táxi bem ao pé da montanha, paguei o motorista, peguei minha mochila, meu cantil com água e olhei para o céu, o dia estava raiando, o sol já dava sinais de sua presença, olhei o relógio já eram seis e meia da manhã. Olhei para a montanha a minha frente, e pensei comigo, será que eu consigo chegar lá? Agora eu pensava na minha idade já bastante avançada para este tipo de aventura, mas já que estou aqui, fazer o que?

Voltar? Não era o meu caso, resolvi seguir em frente e aproveitar o clima fresco da manhã, porque o dia prometia ser muito quente, então escolhi o lado direito da montanha, onde o sol só chegaria pelo final da manhã, e quando isso acontecesse eu já estaria tranqüilamente lá no topo, dando um merecido descanso a meu velho e cansado corpo. Por volta das onze horas da manhã completava a minha missão e satisfazia a minha curiosidade, lá estava eu no topo da montanha.

Um pouco cansado, mas inteiro, mas no momento que olhei a pradaria que se estendia á meus pés, eu entendi o porque deste meu sonho doido, na minha idade escalar uma montanha, valeu a pena ver as planícies que se estendiam até á minha cidade lá embaixo, as matas, os rios que cortam as campinas verdejantes, tudo isso era novo para mim, pois jamais havia visto minha cidade do alto de uma montanha, senti lágrimas em meus olhos ante tanta beleza, e sem poder me conter gritei bem alto:“Obrigado meu Deus eu não esperava tanto!” Feliz, me sentei ao chão e me escorei em uma pedra para descansar, pois meu corpo merecia isso. Mais ou menos uma hora depois, resolvi olhar os arredores á procura de água, não que eu precisasse dela para beber, mas sim para satisfazer uma curiosidade minha, pois sempre ouvi dizer que a água que jorra nas vertentes das montanhas é mais gostosa e mais pura que qualquer água que jorra em outra fontes, andei por vários minutos por entre as árvores, e me deparei com uma pequena choupana a beira de um regato que descia do alto da montanha, no principio eu pensei, que era uma cabana abandonada, mas era puro engano meu, ali havia um habitante pelo menos aparentemente. Um ancião aparentava uns oitenta anos talvez um pouco mais, quando me viu levantou a mão e me chamou, eu o achei um pouco estranho para um morador das montanhas, o que me chamou atenção foi que se vestia corretamente como um cidadão da cidade, curioso me aproximei, e o cumprimentei cordialmente, ele apertou minha mão e convidou-me a sentar.

Quando eu sentei, ele perguntou-me se era eu que estava gritando lá no alto, e, o que eu fazia ali, então eu lhe contei a minha maluquice ao qual ele achou muita graça e riu muito, eu apenas olhava para ele, e acabei rindo

junto com ele, quando paramos de rir, ele já sério me perguntou o motivo de minha maluquice e a minha teimosia em subir a montanha na minha idade.

Então eu lhe expliquei que este era meu sonho desde criança, e que só agora eu o estava realizando, e também eu queria um pouco de paz e harmonia e tinha certeza que aqui u teria tudo isso e muito mais, eu staria mais perto de Deus, realmente disse-me ele, e, é por isso que eu venho aqui todos os dias porque eu também gosto desta harmonia, e podes até me chamar de maluco, mas aqui eu falo com Deus todos os dias, escuto o som dos pássaros, o murmúrio das árvores, e, só por isso, eu posso dizer, eu sou feliz.

Então eu lhe pedi para satisfazer minha curiosidade, e ele me perguntou, o que eu queria saber, então lhe perguntei, como o Senhor faz para chegar aqui no alto todos os dias, ele deu um sorriso e me disse, venha comigo, andamos uns minutos sobre as árvores, e eu fui surpreendido com um belo carro ultimo ano, com um motorista em pé ao lado da porta, e uma estradinha que descia a montanha em direção a cidade, ele ainda rindo me disse, você pensou que eu subiria a montanha como você fez. Você falou que tinha vindo de táxi até ao pé da montanha, era só ter perguntado ao motorista e dito o que queria que ele o teria trazido até aqui em cima e terias evitado toda esta fadiga na sua idade, mas cada maluco com suas idéias, então eu lhe respondi, pode até ser maluquice, mas, estar aqui a seu lado valeu a pena, e pelo que entendi eu estou em sua propriedade, e por esta razão eu lhe peço que me permita vir mais vezes aqui, pois pela primeira vez eu me sinto feliz.

Ele voltou a rir e disse eu posso até ser o proprietário deste santuário no papel, mas na realidade ele pertence a Deus, por isso você é livre para ir e vir, a hora que você quiser, a minha cabana ficará as suas ordens, e eu também terei com quem conversar, pode lhe parecer que estou sendo egoísta mais não, é que tanto na cidade como aqui eu sou muito só, mas, prefiro este silêncio, esta solidão, do que suportar a cidade e seu ruídos, na cabana você encontrará de tudo, pode ficar a vontade, pelo que vejo você está disposto a passara noite por aqui, atrás da cabana existe um gerador, se você o fizer funcionar terá luz elétrica, ele olhou o relógio e disse já são quase dezessete horas, e está na hora de ir, me estendeu a mão a qual apertei com satisfação enquanto ele dizia eu volto amanhã e trago almoço para nós, então eu lhe disse, traga apenas os ingredientes que o almoço eu faço, e você tenha certeza, que degustará uma das mais gostosas refeições caseiras em sua vida, ele penas acenou e disse vamos ver isso amanhã, embarcou em seu carro e desceu a montanha em direção a cidade.

Eu ainda fiquei um tempo por ali apreciando a paisagem, a noite chegava e eu fui para a cabana, já estava escurecendo, encontrei uma lanterna a gás e acendi não quis ligar o gerador, pois eu já estava cheio de luz elétrica, por isso pensei na lanterna é bem melhor, pelo menos não faz barulho como o

gerador, procurei o fogão incrível ele era a gás, em cima do fogão havia

panelas todas limpas, havia também uma geladeira, e eu pensei comigo em tom de brincadeira, que velhinho esperto, mas não toquei na geladeira procurei num armário e ali encontrei o que eu queria, pão e café, esta foi a minha refeição desta noite, em uma outra prateleira encontrei vários livros, escolhi um, mas não o li, porque o sono e o cansaço me dominaram, e eu acabei dormindo com o livro aberto sobre o peito, na manhã seguinte eu levantei cedo para esperar meu novo amigo, esperei o dia todo ele não veio, e assim se sucedeu por vários dias, eu ficava horas olhando para aquela estradinha que ele usava para chegar a montanha, um dia cansado de esperar, eu já estava me arrumando para ir até a cidade quando ouvi ao longe o barulho do carro que subia a serra, assim que o carro parou ao meu lado eu corri para abrir a porta, e para minha surpresa o motorista estava sozinho, ele nada me disse apenas entregou-me um livro, me acenou com a mão e se foi.

Peguei o livro, e apenas olhei para capa e para o titulo do livro, não o conhecia, e nem podia conhecer, pois, não sou dado a leitura, só sei que era um livro Espírita, voltei para a cabana e vários dias se passaram, o livro estava lá jogado em cima da cama, mas, ao voltar para cabana aquele dia notei algo diferente, o livro estava semiaberto e uma carta sobressaía de dentro do livro.

A principio não dei muita importância ao fato, voltei a fechar o livro e fui dormir, pois eu queria levantar cedo e ir até a cidade, saber noticias do meu amigo, mas, aquela noite eu não tive um sono tranqüilo. Passei a noite me revirando na cama e não consegui dormir, no outro dia levantei cedo guardei o livro, peguei a carta e fui me sentar a beira do regato, no meu lugar preferido, uma pedra ao pé de uma árvore, sentei-me tranqüilamente abri a carta e comecei a ler, o que ela dizia, na sua carta ele me dizia, que a muito ele esperava pela visita de alguém, não alguém em especial, mas, alguém que viria até esta montanha, eu só não esperava que você fosse maluco o suficiente e viesse logo escalando a montanha, mas, nada disso importa, o que importa é que no dia em que, leres esta carta, eu talvez não me encontre mais entre vocês, e se assim for, saiba que eu estou feliz, pois cumpri o meu

papel aqui na terra. Por esta razão eu lhe entrego esta cabana, este santuário que foi nos ofertado por Deus!

E jamais agradeça a mim; e sim, agradeça a Deus, por teres sido maluco o suficiente para escalar esta montanha, não faça mais isso, agora esta montanha é sua, e faça um bom uso dela, e sempre recebas seus visitantes com amor no coração, porque Deus estará sempre contigo; e jamais questione o porque, estou fazendo isso, talvez nem mesmo eu saiba o porque de tudo isso, mas, o tempo lhe dirá com certeza!

Vovonei

Pelotas: 01/05/2004