Velório de um amigo

Certa vez, eis que um grande amigo meu depois de muito esforço, apoio da família, dos amigos e, é claro, dedicação, conseguiu, o que poucos conseguem, e muitos querem, garantir seu futuro em um sólido, certo, determinado, definido, claro, emprego público.

De fato isso não é uma verdade... Tampouco uma mentira relativa, ou desverdade. Verdade é que, de fato, nem todos têm tal desejo. Não se pode generalizar! Apesar, óbvio, que tem muita gente por aí, e quando digo por aí, digo no nosso país todo, mas por praticamente, ou literalmente, não sei ao certo... - Desculpem! Continuemos -, todo o território brasileiro, do sul ao nordeste – trata-se de uma figuração que fique bem claro... Porque em verdade, não é bem assim - apesar de que mesmo em outros países, por vezes, é uma situação bem desejada: quase todo mundo quer ser funcionário público devido às comodidades, que nem são tantas convenhamos, e que poderiam ser mais, claro, que contudo há quem pense o contrário e eu respeito todas as opiniões.

Pois que de um modo ou outro as pessoas desejam trabalhar em alguma repartição pública na esperança de poder garantir um futuro com algo sólido, certo, determinado, definido, claro... Pois bem, eu ia falando desse grande amigo meu que com muito esforço, coisa e tal... Não vou repetir tudo de novo, por favor! Bem, esse amigo íntimo por quem tenho grande prestígio conseguiu tal feito e por isso se encontrava em posição invejável, passou em um concurso público, coisa que muitos sonhavam usufruir, não todos, eu, por exemplo, cheguei a fazer a prova também e graças a Deus não passei, eu não queria, não desejo uma vida tão... Mas que grande parte das pessoas desejam, inclusive minha mulher, de conseguir um certo... como dizer, “pai” - que banque suas despesas, as da sua família, pra sempre, se assim for possível.

Não que seja assim que funcionem as coisas, mas me parece que é deste modo que o grande contingente populacional brasileiro imagina a carreira de um funcionário público; e olha que as pessoas imaginam cada coisa, se equivocam com uma facilidade, haha! Veja você que uma vez uma tia minha olhou para um pato, e pensou – estava ela no meio da cozinha - disse alto, fazendo questão que todo mundo ouvisse aquela baboseira do pato... haha! Er! É... Vamos voltar ao que interessa. É importante não se deixar levar demasiadamente em devaneios, embora existam situações onde a reflexão exija certo devaneio...

Enfim, há dois anos atrás, meu vizinho, um cara muito legal, o qual, considero um grande amigo, passou num concurso público. Não era grande coisa, confesso, ia trabalhar em alguma repartição de um órgão... O que importa é que depois de muito estudar, realmente ele ralou como um condenado, conseguiu eliminar a concorrência, que era enorme, um grande mérito, e passou no maldito concurso. Mal sabia ele, que enquanto festejava a vitória, caminhava em direção a uma das piores experiências da sua vida.

Aberlado era um artista! Um grande malandro com pinta de artista, ou um artista com pinta de malandro. Tinha nascido pra ser uma estrela! Trazia nos olhos o brilho do estrelato, quem o conhecia, desejava vê-lo brilhando nos cinemas, ou na TV. Tinha muito carisma, um excesso em simpatia e um enorme coração de ouro, pessoa única! Pobre Aberlado!

Não pense que é inveja! Mas ele merecia mais... E o desemprego é um fato social, quer dizer, pode ser um fato econômico, é um fato de qualquer maneira...

Aberlado morreu dois anos depois, eu avisei a família que ele não estava bem... Mas ninguém me ouvia. Achavam que era inveja, não sei!

Pobre Aberlado... Pobre amigo!

Aqui estão suas flores.

Gregório Borges
Enviado por Gregório Borges em 27/04/2010
Código do texto: T2223013
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