O MENINO QUE QUERIA SER DOUTOR - Capítulo VIII
Ao fim da primeira semana eu, na sexta-feira, estava ancioso para saber se o capitão iria à fazenda no sábado, mas tinha medo de chegar ao capitão e perguntar-lhe. Pedi Eduardo para perguntar. Qual não foi a minha decepção quando ouvi a resposta:
- Não, Eduardo, eu não posso ir amanhã, pois tenho de fazer um serviço extra em uma cidade do interior. Será um mês de vistorias, ficarei mais de um mês sem ir à fazenda.
Nem esperei Eduardo, fui para meu quartinho nos fundos, e chorei... Chorei como criança pequenina. Não tinha vergonha de chorar, pois esta história de que "homem não chora" é só "conversa mole pra boi dormir". Até hoje, se eu tiver vontade de chorar, choro até passar a vontade.
* * *
Como o tempo cura qualquer ferimento, a saudade que daía em meu peito, como uma faca adentrando, foi suavisando, eu fui me acostumando ficar sem minha família...
Mesmo ajudando dona Carolina ainda sobrava tempo para mergulhar-me nas recordações. Sempre aos domingos que o serviço era menos eu me perdia no espaço infinito do pensamento, lembrando-me dos passeios que fazíamos, eu e meus irmãos, pelas florestas, córregos, grutas e tudo de novo que podíamos descobrir.
Pedro que é o mais velho sabia preparar brincadeiras fantásticas. Um certo dia resolvemos fazer uma jangada para atravessar o rio e esta brincadeira quase nos custou a vida. Bem no meio do rio ela virou e fomos obrigados a nadar como peixes, ainda bem que todos sabíamos nadar muito bem e foi só o susto.
Outra vez achamos uma caverna e fomos entrando... entrando e nos perdemos lá dentro. Eu como sempre chorava de dar gosto. Pedro sempre brigava comigo e eu não agüentava mais ouvir: "Deixa de ser mole, você não é homem? Homem não chora!"
Eu tinha tanta raiva daquela frase, aí que o choro era maior.
Neste dia, quando achamos a saída, já era bem tarde e fomos correndo para casa.
A aventura mais interessante que eu achei foi a da visita a casa da velha Inocência. A velha Inocência era uma solteirona que morava sozinha bem no meio de uma matinha perto do rio.