UMA BELA HISTÓRIA

Evoluímos.

Ah! E como evoluímos.

Evoluímos a todo o momento, a todo instante.

Querendo ou não, temos evoluído, sim!

Sexta-feira, 13 de fevereiro, 13 horas, 1953, parece que foi ontem, mas já se vai meio século.

Aquela humilde casinha de chão batido, fogão de lenha, cama de vara, esteira de taboa e colchão de capim.

Lá longe! Na fazenda Jussara, no interior do sul da Bahia.

Foi lá, onde e quando cheguei ao mundo.

Acontece, que sou um grande falador, e Já cheguei fazendo barulho, me esgoelando todo, querendo dizer algo.

Chorei, chorei e chorei!

Eu era danado. O mundo tinha que me ouvir.

Chorei tanto, que a parteira, “mãe Vitalina”, mandou me dar um belo prato de mingau de farinha de mandioca com leite de cabra. Então, de barriga cheia, me refestelei, e colado à minha mãezinha querida, calei temporariamente.

Como viram, essa vontade de falar, de gritar e de espernear, já me acompanhava bem antes mesmo de nascer, a minha “santa” mãe que o diga.

Na realidade sou “voado”, ansioso, agoniado, inquieto e conversador.

Sou mesmo um contador de histórias!

Na década de sessenta, trabalhava na “Venda” do Sr. Lafayete durante o dia, e estudava a noite na Fundação Educacional de Itajuípe (Colégio Técnico de Comércio). Lá, cursei o ginásio e o colégio. Tinha o hábito de ler o jornal (À Tarde) que ele recebia de Salvador, e a noite, com o meu colega Sandoval, discutíamos as notícias e assim, nasciam algumas crônicas que iam parar no mural. Já naquela época, tinha vontade de escrever algo. Contudo, a minha falta de talento aliada a uma boa dose de preguiça, nunca permitiram que tal intento fosse realizado, pois, assunto era o que não faltava.

Quando cheguei em São Paulo, não quedei, além de fazer vários cursos, trabalhei como auxiliar de escritório na Eletroradiobras; fui vendedor de livros por uma semana – vendi uma coleção Baça -, concursado nos Correios, para exercer as funções de carteiro, no primeiro dia de serviço fui remanejado para o setor de mensageiros, por não agüentar com a sacola de correspondências. Fui também motorista particular, policial rodoviário, repórter de rádio e hoje advogado.

Mesmo com tudo isso acontecendo, não conseguia concatenar as idéias e transformá-las num livro. Porém, sinto-me na obrigação de confessar que a minha ignorância não se deu por incapacidade dos meus mestres e principalmente da minha adorada diretora da Escola Técnica de Comércio – a professora Dr. ª Lourdes da Silva Goicoecheia Pinilos Menezes, muito menos da minha iniciática mestra Noélia Portela Pires, que me conduzia desde o grupo escolar. Ambas não se cansavam nunca de nos empurrar com muita dedicação e amor, para a literatura e para as artes.

Tenho saudades e recordações dos docentes, de todos eles: João Aguinaldo, Velinho, João Clímaco, Dicinha, Minalva, Ruy, Doutorzinho e Manuel Izidoro. Tinha ainda a professora Célia.

Ah! Que linda mulher, com porte de guerreira amazona e jeito de lebara. Subia as escadas para o primeiro andar, derramando ar de Afrodite por todo ambiente. Naquele jogo infernal de mostra-e-esconde, deixava à mostra boa parte das suas lindas pernas morena-jambo. Ela era um verdadeiro monumento, o patrimônio erótico do colégio, a dona dos joelhos mais lindos e sensuais que existiam.

Adorava todos eles, porém a predileta, a especial, a que me amava com o olhar, que me dava carinhos e afagos, me compreendia mais que os outros(a), a que era o grande amor secreto da minha vida; a minha paixão adolescente; era a professora Maria José.

Meu Deus! Como era bom tudo aquilo. Eu amava e era correspondido, tudo bem, que era superficial, mas, naquela época os namoros eram assim mesmo! Os “finalmentes”, a gente ia para a “Rua do Cacau...” ·Aquela linda e magistral professora, no sentido amplo da vida, foi a minha musa, a minha deusa, a minha sacerdotisa. Ela foi à fonte dos meus sonhos, dos meus delírios, dos meus desejos mais secretos e da minha transformação.

Confesso isso, não por uma necessidade pessoal de justificar-me, mas sim por um profundo respeito pela verdade. Também não desconheço o negro espectro dos erros que cometi e sei que agora mesmo pode estar planando sobre estas linhas, mas, apesar de tudo, correrei o risco. Pois tudo na vida indica evolução, e eu quero evoluir. Nós nascemos incapazes e dependentes e em pouco nos tornamos adultos capazes. Em tese, não preciso mais do mingau da “mãe Vitalina” para me alimentar, mas ele continua a nutrir a minha existência.

Sempre me perguntei:

Se fosse escrever minha história, começaria por onde...?

Pelo início... ?

Confesso que algumas vezes tentei, nada ocorrera.

Naquela época quando estudei na FEI, fiz parte do Grêmio Estudantil, da diretoria do time de futebol da cidade - Grêmio Esporte Club e do Clube Social local. Fiz parte ainda do grupo de estudos católicos do colégio e da comunidade de auxílio à paróquia de Itajuípe, na condição de coroinha, de onde fui expulso por uma tremenda injustiça praticada pelo Frei Raul, no episódio do “roubo das canetas de ouro do frei”, praticado pelo “Mineiro e por Didi”.

Naquele fatídico Domingo ensolarado, não me encontrava no local do crime, estava na praia de Olivença (Ilhéus) com o Sr. Lafayete, Dona Glória, Cláudio, Geraldo e a Neiva. No retorno da praia, Dominguinhos e eu, fomos sim à igreja não para roubar canetas e sim, frutas no pomar, nada, além disso!

Respondendo a aquela minha pergunta inicial, esse seria um bom começo para uma história, inclusive para se reparar um dano causado por uma tremenda injustiça praticada pelo Frei Raul, pároco da igreja local, que me acusou de furto e sumariamente me expulsou da comunidade, mesmo depois da intervenção do Sr. Lafayete, que atestou a minha inocência, e depositou meu álibi.

O Sr. Jovino Bernardino, também se manifestou em prol da minha pessoa e da minha moral. Mesmo assim, não houve jeito, o “Alemão”, já havia me julgado e a sentença proferida, e com a sua imponência nazista, me expulsou do corpo de coroinhas da igreja, tirando o nada que eu tinha, que para mim era o tudo. O direito de jogar bola no campinho e brincar na mesa de pingue-pongue.

Ocorre que a prosperidade é uma condição natural decorrente da ordem universal das coisas através de manifestações inteligentes e coerentes.

Com exceção do padre, toda a cidade me absolveu e agora estou aqui contando o “causo”.

O engraçado de tudo isso é que somente agora ao completar meio século sobre a Terra, é que fui despertar, tocado por uma força oculta que está me ajudando a realizar o sonho de infância que é escrever algo.

Contando essa breve história da minha vida, na realidade estou começando pelo início, e nesse exato momento quero deixar claro que o homem atrai para si o sucesso e a abundância, isso porque somos a própria vida em forma de gente, somos, portanto, filhos da abundância natural e não da escassez.

Quando tentava escrever não conseguia. Então deitava e revivia todas as histórias, todos os lugares, todas as pessoas. Porém quando ia tentar construir o esqueleto da obra nada saia, não sabia valorar, não tinha a capacidade de transportar o pensamento até as pontas dos dedos, não podia reorganizar forças e enfileirar pensamentos para sustentar o “lápis” nesse bailado das letras a que vou me habituando.

O interessante de tudo isso é que quando quis voar, não consegui, não sabia amar!

Pois, se soubesse amar, saberia me transportar!

Somente agora e a esta altura da minha vida, e após ter percorrido vários caminhos (muitos deles, sinistros e tortuosos) é que fui tocado por essa força oculta que me direcionou e vem me conduzindo há aproximadamente quatro anos.

Primeiramente me levou para a maravilhosa irmandade do Templo de Umbanda Caboclo Tupy da Aldeia e Pai Thiago da Senzala – RUA ALTO DA PARNAÍBA, 55, VILA GALVÃO, GUARULHOS/SP – fui recebido e acolhido como uma verdadeira celebridade, como filho legítimo, pelo dirigente espiritual (Pai Ademir do Carmo), e por todos os membros daquela sociedade religiosa.

No início, ainda não tinha consciência do que estava acontecendo, me encontrava lá na condição de curioso, eu achava. Porém, logo a seguir me tornei um deles! Um médium. .

Hoje, inteiramente integrado ao Terreiro e a Umbanda, me sinto “solto”, muito honrado e feliz. Ainda por cima, tenho a honra e um prazer incomensurável de cursar a Faculdade de Teologia Umbandista – FTU, a primeira do gênero no mundo inteiro...!

E, já poder ouvir e falar de assuntos diversos, tais como: Divindades, Seres espirituais, Natureza, religiões e suas filosofias, Orixás, Demônios, além dos Universos físicos e espirituais. Dos conhecimentos gerais, e dos aspectos sociológicos, da espiritualidade, da formação dos mundos, da natividade de Jesus de Nazaré e sua vivência na condição humana. Do surgimento da primeira raça humana (a Edênica) e das outras. Do pecado, da reencarnação, da vida após a morte, do sexo e da sensualidade, do orgulho e da ganância, dos Eguns e dos Exus, além de outros assuntos pertinentes.

É por isso que digo: É uma bela história!