O MENINO PRODÍGIO = EC

Guilherme chegou à secretaria da Faculdade para fazer sua matrícula.

Conseguira o primeiro lugar e tinha direito ao prêmio oferecido pela Escola, uma bolsa para o curso todo.

Mas, quando o secretário pediu-lhe seu histórico escolar ele simplesmente respondeu:

- Nunca freqüentei uma escola, portanto não possuo tal documento.

- Mas, como? Você foi o primeiro colocado. Fez uma prova excelente, deve ter estudado em boas escolas, feito cursinhos. Que aconteceu com seus documentos?

- Como disse, não os tenho.

***

Na pequena cidade do interior onde Guilherme passou sua infância, a única escola foi fechada quando mudou a política e nunca mais foi reaberta.

Os garotos passaram a estudar em uma cidade próxima para a qual viajavam todos os dias, mas o pai de Guilherme não permitiu que ele fosse, um pouco por pobreza, um pouco por descaso. Não achava que fosse importante estudar.

Mas, Guilherme tinha muita vontade de aprender e uma inteligência prodigiosa.

Com livros emprestados dos amigos, jornais e toda a sorte de informações que lhe chegavam conseguiu uma cultura muito além da média.

O pai não valorizava.

- Você está perdendo tempo, não adianta nada saber colocar os pronomes, o importante é saber se colocar na vida.

Agora, com dezoito anos, chegou a Capital para prestar o vestibular, com a cara e a coragem, sabendo que, teria que conseguir o primeiro lugar para ganhar a bolsa, pois sem isso não poderia se manter.

Consegui seu intento, mas não conseguiu matricular-se.

***

O secretário houve por bem encaminhá-lo ao Reitor, pois o seu caso era inédito.

- E então? Por que não apresentou os documentos que lhe foram pedidos?

- Porque não os tenho. Sou autodidata. Nunca estive na escola.

- Você é um rapaz inteligente, Merece cumprimentos pela sua colocação no vestibular, por que insiste em mentir? Se perdeu seus documentos a escola onde estudou lhe fornecerá uma segunda via.

- Eu realmente estudei sozinho. Não possuo os diplomas que o senhor está pedindo.

- Se é assim, não posso fazer nada. É do regulamento. Você nunca poderá cursar uma Escola Superior sem ter feito os cursos básicos. È a lei.

Guilherme saiu para a rua e foi andando sem rumo certo. Que faria agora? De que valeu todo seu empenho, todo seu estudo? Que adiantou ter sido um garoto prodígio?

Vá ver que o pai estava certo.

“De nada adianta saber colocar os pronomes se não souber se colocar na vida”

Ou melhor:

O importante é o Diploma, não a competência.

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Impedimentos Legais

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Maith
Enviado por Maith em 03/05/2010
Código do texto: T2234068