EU (QUASE) MOREI EM PARIS! (EC)

 

 

Tinha acabado de chegar na cidade grande. Grande? Imeeeeensa! De dar medo aos viajantes cotidianos, ainda mais assustadora ela me parecia, por jamais ter saído da pequena Campina Verde – Minas Gerais. Sem um tostão na bolsa, sozinha e virgem! Ah... Essa doeu! Mas a coragem, a fantasia da (ainda) adolescência, me impulsionava.

 

Acostumada a comprar o jornal, todas as manhãs, para pesquisar empregos, gelei quando vi aquele anúncio estampado na primeira página do Caderno:  “PROCURA-SE MOÇA SOLTEIRA, SEM FILHOS PARA ACOMPANHANTE DE CASAL SÓ E QUE POSSA RESIDIR FORA DO PAÍS”.  E não era tudo o que eu queria? Ainda não tinha iniciado o meu namoro com esta cidade, onde se sofre, a luta é constante, mas que nos enfeitiça.

 

No dia seguinte, bem cedo, arrumei-me o melhor que podia, dentro das limitações de meu guarda roupas e lá fui eu até o endereço que estava no anúncio. Naquela época, década de 70, ainda não representava nenhum perigo, estampar telefones ou endereços, publicamente. Eu estava muito ansiosa e tinha convicção que o emprego seria meu. Afinal, era jovem, culta, bem informada e não havia nada que me prendesse aqui.

 

A empregada abriu-me a porta, conduzindo-me ao escritório, onde havia uma estante enorme, muitos livros, que fiquei admirando de boca aberta. Era um luxo só. Logo entrou uma senhora, aparentando 60 anos, elegantérrima, falava baixo e pausadamente, com um pesado sotaque francês.  Gentilmente, convidou-me a sentar e começamos a conversar sobre vários assuntos. Esclareceu que a única filha havia se casado recentemente e que ela e o marido decidiram retornar à França, mais propriamente para Paris, sua cidade de origem.

 

A empregada da casa voltou, trazendo um café, acompanhada pelo marido da elegante senhora. Cumprimentou-me, lançando-me um olhar de cima a baixo. Pude notar que ele era um pouco mais jovem do que ela. Meio sem graça, acompanhei-os no café servido com uns bolinhos que nunca havia provado. - Gente muito rica, pensei!

 

Então, logo após o café, perguntou-me se eu queria algo mais, uma água, um suco e respondi que não; estava satisfeita. - Qual é a sua idade? Perguntou, fitando-me, quase com pesar.

- Tenho vinte e um anos – respondi - um pouco amedrontada, pois não sabia, ao certo se a idade iria ajudar ou atrapalhar, naquela altura da entrevista. O marido continuava me secando com seu olhar insistente.

 

A elegante senhora levantou-se, estendeu a mão para se despedir, chamou a empregada para acompanhar-me até a porta de saída e, calmamente me disse. – Gostei muito de você, uma menina inteligente, sabe conversar é bem informada, mas, infelizmente, é muito jovem e bonita também.  Eu esperava uma pessoa bem mais velha, sinto muito.

 

Até hoje eu me pergunto se foi a minha pouca idade que impediu-me – legal ou ilegalmente – de tornar-me uma Parisiense. ULÁLÁ!


 



Este texto faz parte do Exercício Criativo -
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