O MENINO QUE QUERIA SER DOUTOR - Capítulo XIII
Ao entrar o ano de 1974, voltei para Belo Horizonte, por insistência do capitão e dona Carolina, voltei para sua casa novamente.
Jorge e Eduardo deram-me todo o apoio que precisava.
Eles foram mais do que irmãos...
Augusta me deixava numa confusão!... Quando falava que era minha irmã, ela se enfurecia e olhava para mim com os olhos bem fixados nos meus e dizia:
- Eu não quero ser sua irmã!!!
Um dia estava em meu quarto, que há muito tempo deixou de ser o quartinho dos fundos para ser um dos quartos lá de dentro. Sentou-se em minha cama e disse:
- Francisco, esteja certo de que a felicidade de sua vida não pode vir de fora. Você só poderá encontrar a felicidade, quando souber fazê-la nascer dentro de seu coração, quando aprender a ajudar a todos indistintamente, com suas ações, suas palavras e seus pensamentos. Pense positivamente, perdoando a todos e sentirá a maior felicidade de sua vida na alegria de viver bem.
Fiquei por longo tempo olhando para Augusta.
Naquele momento eu me surpreendi. Eu estava apaixonado novamente? Ou o amor que sentia por Kátia era só ilusão? Será que o amor verdadeiro havia acabado de nascer dentro de mim? Eu estava confuso, muito confuso mesmo...
Augusta era como se fosse minha irmã.
- Augusta, você está dizendo para eu esquecer ou perdoar o que Kátia me fez?
- Sim. Se você tiver a capacidade de perdoar, você será feliz, por toda a sua vida, assim você será vitorioso.
- Augusta, só Deus sabe o que eu sofri na prisão. Eu fui humilhado, maltratado, espancado, martirizado, torurado e por nada, por uma coisa que não fiz! - falava chorando com toda a revolta que tinha dentro de mim.
- Eu sei Francisco, como você sofreu, eu também sofri muito, aliás, eu não, todos nós. Mas, tente... um dia quem sabe você poderá esquecer disso tudo. - falou Augusta, pegando a minha mão e levando-a sobre o peito e apertou com todo afeto que uma pessoa pudesse passar à outra.
Eu a abracei e não me contive em dar-lhe um beijo de amor.
- Desculpe, Augusta, desculpe... você é como se fosse minha irmã, por favor, me perdoe!...
- Oh! Francisco, por que eu digo que não quero ser sua irmã? É por isso, eu não quero ser sua irmã, mas sim sua amada, eu te amo, desde que éramos crianças. Por favor ame-me também, eu tenho sofrido tanto por este amor escondido. Eu estou verdadeiramente apaixonada por você, eu quero que você me aceite, não como irmã, mas sim como uma pessoa que pode dar-lhe todo o apoio que você necessita! - falava aos prantos.
Eu chorava também. Não lhe disse nada. Só a abracei com toda a minha emoção.
* * *
Os dias foram se passando e eu temia não poder amar Augsta em público. Temia que o capitão não aceitasse essa condição dentro de sua casa.
- Meu bem, nós temos de regularizar nossa situação perante sua família. Não podemos ficar nos encontrando às escondidas como dois condenados.
- Eu tenho medo, Francisco! - falava Augusta apreensiva.
- Medo de que, Augusta? De seu pai?
- É! Tenho medo que ele proíba nossa ligação, se ele proibir eu morro de desgosto!
- Não, não pense assim, meu amor. Eu falo com ele e tudo se resolverá! - falei confiante.