O MENINO QUE QUERIA SER DOUTOR - Capítulo XV

Um mês depois o resultado da prova do concurso saiu. Eu fui o terceiro colocado.

O capitão promoveu uma festa em comemoração à minha vitória e o meu noivado com Augusta.

De quinze em quinze dias eu visitava meus pais na fazenda.

Fomos ao casamento de Orlando, que se casou na fazenda mesmo, numa capela que havia no alto da serra. Foi muito simples mas tudo muito bonito e emocionante. Só me perdia no pensamento, pensando no grande momento em que eu e Augusta nos casássemos.

* * *

Terezinha e Maria do Rosário também se casaram na mesma capela no ano de 1974.

A cada dia que se passava eu ia me afastando mais de minha família. Na verdade não era isto que eu queria, mas as coisas aconteciam sem que eu percebesse. Ia me distanciando sem me dar conta. Quando senti já era muito tarde, não me adaptei a eles e vice-versa. Bem que mãe sabia... Visitava-os sempre, mas a cada dia, mas parecia um estranho que chegava.

* * *

O emprego no banco era um ótimo negócio, mas como tudo tem seu preço, fui chamado para trabalhar:

- Meu amor! Olha, a carta do banco me chamando para trabalhar. Em pouco tempo poderemos nos casar.

- Que bom, querido! Graças a Deus saiu logo.

- Amor! Tem um porém.

- O que é bem?

- Eu acho que as pessoas que entram pela primeira vez no banco, são colocadas para trabalhar longe.

- Se é para o nosso bem, tudo passará, venceremos qualquer obstáculo...

- Tudo bem, amor, era isto que eu queria ouvir de você, mas talvez eu tenha sorte para trabalhar aqui mesmo em Belo Horizonte.

A carta estava dando um prazo para me apresentar na agência central, para tratar dos papéis de ingresso no banco.

Fui me apresentar, qual não foi a minha surpresa quando chamaram-me e disseram onde eu iria trabalhar:

- Francisco de Assis da Silva Souza, fará um período de doze meses na cidade de Santarém, no Pará.

Naquele momento que ouvi aquelas palavras, quase desmaiei, subiu-me um sangue quente, meu coração disparou, minhas mãos ficaram geladas...

- O que foi moço? Está sentindo alguma coisa? - perguntou o rapaz que estava ao meu lado.

- Não! Não, não estou sentindo nada. Foi só o susto em saber que vou trabalhar tão longe.

No mesmo momento chamou o rapaz que estava ao meu lado era Frederico da Silva Jardim, também iria trabalhar em Santarém.

- Olha aí, eu também vou para o mesmo lugar.

Saimos juntos e fizemos amizade ali mesmo. Afinal iriamos enfrentar a mesma barra. Dois rapazes solteiros, numa cidade desconhecida.

Cheguei em casa muito tristonho. Augusta não estava, fui até a cozinha beber água estava um bilhete de dona Carolina: "Francisco, saimos para fazer compras para o enxoval. Se não chegarmos até às cinco horas faça-me o favor de fazer o jantar. Um beijo, sua mãe Carolina."

Li o bilhete e chorei como criança, iria ficar um ano afastado daquelas pessoas que o tempo e as circunstâncias tornaram minha família.

Fiz o jantar e aguardei a todos.

Todos chegaram e fomos jantar. Durante todo o tempo não troquei nenhuma palavra com ninguém. Estava muito triste e pensativo.

- O que foi que houve, Francisco, você é sempre o alegrador de nossas refeições? Quase não comeu e parece-me tão apreensivo?

- É, capitão, são as amarguras da vida, quando a gente não está preparado para receber certas notícias...

- O que foi, amor, assim você assusta todos nós!

- Você nem imagina, Augusta! Eu tenho que ir trabalhar em Santarém, no estado do Pará.

- Santarém? No Pará? Oh! Meu amor, que triste notícia!

- Ah! Francisco, eu sabia, quase todos que iniciam no banco são mandados para longe. - falou o capitão mostrando um ar de preocupação.

Dona Carolina e Augusta começaram a chorar. Eu também chorei. Eduardo, Jorge e o capitão ficaram numa tristeza de dar dó.

Eu teria de partir dentro de quinze dias.

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 29/08/2006
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