A VIAGEM

Numa madrugada, quando a barra do sol nascente ainda surgia avermelhada, nossa família, em companhia de algumas outras partia de Brejo Santo com destino a Itaguajé no estado do Paraná, num ônibus.Como criança, com 9 (nove) anos de idade, não sabia avaliar o que significava aquela partida da terra natal para outras terras desconhecidas. Para mim era uma aventura e a busca do desconhecido despertava a curiosidade e o desejo de conhecer outras cidades, outros estados.Quem sabe aqueles filmes do cinema do Sr. Artur tivessem alimentado o sonho de viajar, de conhecer novas terras e novas pessoas?

Viajamos durante 8 (oito) dias, parando para as refeições e para dormir, ora bem acomodados em bons hotéis ora em lugares não tão cômodos.

Durante o percurso conhecemos lugares belíssimos, cidades encantadoras, paisagens deslumbrantes onde a natureza nos deixava extasiados, com suas cachoeiras límpidas, seus rios transbordantes, suas estradas sinuosas onde os precipícios nos amedrontavam, como à de Petrópolis, cortando as montanhas acidentadas. Tudo era novo e agradável. Nem mesmo o cansaço nos abatia, estávamos sempre atentos à paisagem tão maravilhosa e até ali desconhecida.

Em Itaguagé tudo era diferente: as ruas sem calçamento com aquele pó avermelhado, as casas de madeira sobre troncos de árvores, colegas japoneses com sotaque bem diferente, sem falar na saudade que agora eu sentia dos meus familiares, dos meus amigos, da minha terra e até da escola de D. Rosa com o castigo no quarto escuro.

Foi muito bom apesar de tudo, conheci novos amigos, a adorável professora Idalina com quem cursei o segundo ano, aprendi a patinar e havia a companhia dos conterrâneos, especialmente a dos meus avós Zé Denguinho e Mariínha, tios e primos. Imagine que a Farmácia Santana era do tio Vicente, exatamente como em Brejo Santo. E meu pai, como em Brejo Santo, tinha um armazém e já mantinha negócios em Presidente Prudente e, em Curitiba. Por motivos de saúde e inadaptação de mamãe teríamos que retornar a nossa terra.

No ano de 1956 voltamos para o Nordeste, porém ficamos morando em Serra Talhada, no Pernambuco, onde meu pai já tinha negócios anteriormente. Lá cursei o terceiro ano primário no Educandário São Domingos Sávio. E finalmente em 1957 voltamos para Brejo Santo.