Antes de dizer Adeus...

As mãos dela estavam trêmulas, mal seguravam o copo de uma bebida barata qualquer que havia acabado de pedir. Na outra mão um cigarro quase no fim, não por conta das tragadas, mas porque ela simplesmente esqueceu que o tinha entre os dedos. Olhava fixamente para um espelho velho e quebrado que estava atrás do balcão imundo coberto de fulgem preta que indicava que a muito não era limpo. O espelho parecia refletir-lhe não a imagem da bela garota que ali havia, e sim seu interior, aquela parte obscura dentro de nós que ninguém vê, mas que está lá, sempre está...

Aquela imagem parecia irritá-la e em cada olhada para o estranho vidro imitador sua inquietude parecia aumentar. As mãos ainda trêmulas agarraram com tanta força o copo agora vazio que por um instante pensei que ele fosse se espatifar em mil pedaços, porém a garota não tinha forças, nem para isso nem para mais nada...

As mãos trêmulas se aquietaram, sua feição desesperada abrandou e por uma fração de segundos se lembrou do cigarro entre os dedos. Deu-lhe uma última tragada e vagarosamente o apagou em um cinzeiro de madeira. Parecia enfim em paz.

Uma última olhada no espelho, foi o que ela fez antes de se levantar e posso jurar que no instante em que fez o primeiro movimento, uma única e solitária lágrima caminhava em seu rosto como se aquela fosse a última de tantas outras que já fizeram este mesmo trajeto.

Deixou algum dinheiro em cima do balcão e se dirigiu até a porta do bar. Deu uma olhada no local, achei que olhava para mim ou pelo menos queria que o fizesse. Um sorriso no canto dos lábios, foi a última imagem que tive. Após isso ouvi apenas o sino da porta fechando-se atrás de mim e logo depois um silêncio atordoante. O sol já estava se pondo e eu sabia que nunca mais tornaria a vê-la...