CINDERELA, A MENINA DO MORRO VERMELHO

Era uma vez...

Não, não era uma vez...

Era sempre...

Cinderela era a menina tudo mais do “Morro Vermelho”...

Mais pobre, mais suja, mais cheia de piolhos... E, a que menos aprendia na escola.

Mas, Deus fora generoso com ela... Era possuidora de uma beleza ímpar. Seus lindos olhos azuis mais pareciam duas estrelas cintilantes.

Sua pele rósea lhe dava sempre a sensação de frescor, embora trincada pelo frio...

Com suas sandálias de borracha, os pés sempre vermelhos subiam e desciam o “Morro” duas vezes ao dia.

Pela manhã catava latinhas para ganhar alguns trocados que dava à mãe para comprar o leite.

Não era sempre que Cinderela tomava seu banho para ir à escola. Muitas vezes não dava tempo de aquecer a água para seu “banho de caneco”.

O Dever que a professora dava “Para Casa”, às vezes tentava fazer sozinha, pois não havia ninguém na família que soubesse ler para ajudá-la.

A tarde descia novamente para ir à escola. Lugar este cheio de encantamento, alegria, choro, tristeza, menosprezo...

Dava um beijo na mãe e descia correndo sempre atrasada...

Ao chegar toda tímida, com sua velha “ pastinha vermelha”, o vestido sujo e desbotado, os pés vermelhos...

Encostava-se num cantinho do muro e ficava observando as demais crianças chegarem.

Uns vinham de ônibus, outros de bicicleta e a maior parte de suas coleguinhas vinham de carro.

Paralisada no cantinho um misto de riso e dor a consumia: dor por ser tão hostilizada e humilhada por todos...

Risos, pois ali era o lugar que a tornava mais próxima de todos, principalmente na hora da merenda escolar que era todos os dias, a sua primeira refeição.

Ao ver as colegas bem arrumadas, com os cabelos sedosos brilhando feitos raios solares, as roupas perfumadas de amaciante, os risos ecoavam por sua mente latejante...

Lá no fundo a inveja vinha fazer-lhe companhia...

As garotas da escola não a aceitavam na roda de amigas. Os piolhos fervilhavam sua inocente cabecinha.

Todos os dias antes de bater o sinal para o término da aula, a servente escolar reservava um pouco da merenda num pote de sorvete, que a menina colocava timidamente dentro da mochila. Este pouco de merenda era “tudo”!

Esta seria a última refeição que faria ao chegar a casa, juntamente com mais três irmãos naquele frio dia de inverno...

E assim continuava sua modesta vidinha com o olhar rumo ao horizonte...

Um vazio profundo havia naqueles lindos olhos...

Nem fada madrinha...

Nem príncipe...

Nem baile...

Nem “sapato de cristal”,

Porque esta é uma história da vida real !

Cida Rios
Enviado por Cida Rios em 10/06/2010
Código do texto: T2311219
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