O MENINO QUE QUERIA SER DOUTOR - Capítulo XXIII

Nos primeiros meses eu fiquei fora de mim, parecia não ser eu quem andava, falava, comia...

Ia todos os dias ao cemitério conversar com Augusta:

- Augusta... Augusta, meu amor, está me ouvindo? Por que você se foi? Eu não posso viver sem você. Fiquei esquartejado, não respiro mais, estou sufocado, por favor, leve-me também!

Eu chorava como uma criança. Fiquei quatro meses afastado do trabalho, pois não tinha como trabalhar.

De vez em quando lembrava-me da doce Patrícia que vivia pelos cantos tristonha. Sabia que não poderia deixá-la sofrer mais do que estava, mas não tinha ânimo para cuidar dela...

Aluguei minha casa e voltei para a casa do capitão. Ficava mais fácil para cuidarem de Patrícia.

Esporaticamente ia à fazenda. A primeira coisa que fazia ao chegar era ir ao rio no local do acidente:

- Rio, rio maldito! Por que escolhestes minha amada para tragar? Oh! Rio!... Quantas e quantas vezes, quando criança brincava em suas águas e você nunca havia me traído. Traiu-me logo com Augusta... Eu nunca vou te perdoar! Nunca, ouviu? Nunca!!!

Gritava, chorava, batia no chão, puxava os cabelos. Eu fiquei quase maluco. Se Patrícia não existisse, isso com certeza teria acontecido.

Internaram-me numa clínica de repouso. Passava a maior parte do tempo dopado com remédios fortíssimos.

Ao final do quarto mês consegui voltar ao trabalho e tentar seguir a vida...

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 08/09/2006
Código do texto: T235434