UM DIA DE PRAZER (Um conto pessoal)

Não é rotina. É prazer! Acordar todos os dias, olhar pro céu, observar as nuvens, o vento, a temperatura... E sorrir! Descendo as escadas na velocidade costumeira, ritmando os passos no piso de ferro, sobressaltando os demais moradores da casa, segue animada pro desjejum: seus sanduíches naturais, muitos queijos variados, suco de frutas - às vezes a estripulia de um refrigerante logo de manhã!

Assim começa ela. Não mais engole sua refeição matinal. Degusta-a, saboreando as iguarias que compõem seu colorido cardápio. De companhia, a mãe nos últimos preparativos da manhã para os demais da família. Enquanto isso termina de se alimentar e tomando posse dos materiais de trabalho, entra no carro não sem antes acomodar a preciosa mochila com seu mais importante apetrecho de vida: suas asas!!!

E o dia prometendo: sol, nuvens leves e vento nordeste sem exageros. Típico da cidade. Preparava-se religiosamente todas as tardes adiantando tarefas e compromissos, sempre para a parte da manhã do dia seguinte, a fim de poder, caso o clima favoreça, livrar-se do escritório e subir a serra, alcançar o topo da montanha e ali abrir suas asas e com elas singrar os céus em mais um deleite natural.

Como aprendera desde o início, traçou na mente passo-a-passo os procedimentos a tomar, verificando mentalmente cada engate, cada linha, cada fivela, os passos, a corrida breve, a inclinação do corpo, flexão dos joelhos se precisar, o sentir dos braços simétricos... Pensou nas coisas simples que lhe trazem o sorrir no rosto: as cores das asas e do capacete. Este, não por ser preto, e sim por trazer em si o cuidadosamente recortado emblema da escola onde aprendeu os primeiros passos e as demais seqüências da realização de seu maior sonho; e da firma que lhe proporciona tamanho privilégio, de poder sair no meio do expediente de trabalho para, simples assim, voar...

Seu companheiro fiel, o parapente. Asas artificiais e tecnologicamente eficazes e avançadas. O sonho de Ícaro desenvolvido com segurança, sem riscos de derreter.

Preparada, de frente pro vento, firmando comandos nas mãos, procedeu sua favorita decolagem invertida e mais uma vez coloriu o céu azul e branco da quente cidade para dentro de algum tempo chamar a atenção de gentes no centro da cidade ao pousar novamente graciosa à beira do rio, confundindo no gramado verde seu par de botas favorito!

Está aberta a temporada dos pássaros. E das águias também!