O PUTRAFICA - uma ode para Demétrio Tenório de Mello

Demétrio Tenório de Mello

O domador de leões

Morou em Ipanema, na década de 80.

Era visto dirigindo uma Maserati conversível na orla do Rio

Placa de Punta Del Este

Entre outros carros

Jaguar

Porcshe

Lamborghini

Não eram dele

Demétrio foi o cafajeste no balneário carioca

Adepto das campanhas contra as drogas

Servia café a PMs em cafeteiras cheias de pó

Cheirava compulsivamente depois e antes

Batidas em seu apartamento

Não foram poucas

Não achavam nada

Em geral, iam embora melhores amigos.

Os PMs e ele!

Comparsas

Também, contrabandeava Rolex.

Trazia carros roubados do Paraguai

Tinha leões em seu apartamento

O qual era frequentado pela nata da bandidagem mundial

Falava pelo menos quatro línguas estrangeiras

Fluentemente

Sua casa era um bordel

Ele era o gigolô mor do Rio de Janeiro

E era cearense

Vivia na noite de Ipanema

Ipanema era o Leblon de hoje

Naquele tempo

Diria Hélio Luz

Ipanema brilhava à noite

É!

Ipanema brilhava por causa de Demétrio Tenório de Mello

Não durou muito

Com 38 anos de idade foi encontrado morto no Cosme Velho

Tiros nas palmas das mãos

Em seu corpo, onze pipocos fizeram a avaria.

Não sei por que tantos

Por vingança ou cortesia

Seu fim foi degradado

Ele era o homem que sabia demais

Na casa dele, foi descoberto um dossiê.

856 páginas

46 capítulos

Relatos de cizânia com uma modelo Paraguaia

Evasão de bilhões

Envolvimentos com o Cartel de Cali

Cartel de Medellín

Máfia italiana

Deputados

Senadores

Empresários

Traficantes

Economistas

Todos nomeados explicitamente

Membros da sociedade brasileira

Até o CENTAC 26 foi citado no dossiê

Serviço de informações

Movimentações de milhões de dólares

Vários bancos

Dezenas de negócios nebulosos

Roubos de diamantes

Empresas fantasmas

Enriquecimento ilícito

Além de menções a festas regadas à puta e pó

Deus não destruiria com fogo e enxofre essa Sodoma e Gomorra documentada

O caso foi arquivado por falta de evidências

Ninguém nunca foi punido

Aparentemente nada ficou provado

Só rindo!

A vida como ela é

Quando Demétrio mudou-se pro meu prédio, eu tinha 12 anos.

Fui seduzido por ele

Qual menino da minha idade não seria

Enquanto meus amiguinhos tinham heróis convencionais

Superman

Batman

Homem-aranha

Tantos outros

Eu só tinha um ídolo

Demétrio Tenório de Mello

O Cearense da Doze do Cano Cerrado

O Homem do Taco de Baseball

Rapidamente virei seu leva e traz

Eu esperava ser chamado ao seu apartamento

Ficar no meio das gostosas seminuas

Entre um beijo e outro de suas meninas

Ahhh... Minha puberdade...

Sem entender bem o que acontecia o tempo foi passando

Com 14 anos de idade perdi a virgindade no apartamento do cara

Verônica foi a dissoluta da boa ação sexual

Ela foi capa da revista Ele & Ela

Franja repicada

Calça Dijon com plaquinha de metal no bolso

Sandália de plástico

Outros tempos

Minha mãe é cristã ortodoxa e sofria por minha amizade com Demétrio

Eu não tive pai

Escolhi o mito como pai

Estar na vida dele

Passear em seus carros

Rezar pela caridade de outras maneiras

Rameiras

Denominação usada por Demétrio ao classificar suas meninas

Assim vivia a minha biografia

Daí pra drogas foi um pulo

Com 17 anos eu já tinha cheirado mais de 50gr de pó e comido 49 mulheres

Sim

Eu contei

Pior

Escrevi no meu diário

Na verdade, até outro dia.

Parei de anotar no número 1.000

Infantiloide

Tinha medo de passar de 1.000 bucetas

Pensava nos astros de rock

Comeram tanta gente

Enjoaram

Viraram viados

Começaram a dar ré no kibe

Cagar pra dentro

Tô fora

Hoje tenho 39 anos

Perdi a conta das piranhas picadas por mim

Passei a pica em geral

Eu não enjoei

Foi também aos 17 anos o meu primeiro trabalho pro grande homem

A missão:

Pegar uma BMW em Teresópolis e trazê-la pro Rio

Imaginem um menino de 17 anos, dirigindo uma BMW na Washington Luiz.

Esse menino era eu

Não abaixava minha cabeça pra nada

Na mala da BMW

Dentro do estepe

Um quilo de cocaína

Montinhos de dólares

Soube depois

Demétrio contou-me o que eu tinha feito

Deu-me os meus primeiros 1.000 dólares

Elementar meu caro

Outras mulas eu fiz

Não parei

O esquema era o seguinte

Alguém roubava um carro de luxo no Paraguai

Geralmente esportivos com preço superior a 100 mil

Botavam as drogas no estepe

Com novas placas eu os pegava em Foz do Iguaçu e trazia pro Rio

Outras vezes, levava pra São Paulo.

Abastecendo ambos os mercados de carros e de coca

Tudo era falsificado

Meu RG

CNH

CPF

A porra toda

Eu era outra pessoa

Só faltou-me um curso de espanhol

Nunca fui pego

A fé não costuma falhar

Eu já sabia

Em 1995

No dia do show do Rolling Stone

Maracanã

Soube do assassinato do Demétrio

Chorei como nunca

Era tarde

Eu já era o filho do bordel

O sem caráter

O coisa ruim

Tenho orgulho de mim

Demétrio igualmente teria

Herdei seu famoso Taco de Baseball e sua Doze Cano Cerrado

Minhas relíquias

Uma das suas biscates deu pra mim

Obrigada

Eu sou o putano

Hoje trabalho vendendo sonhos

O melhor emprego do mundo

Juntei dinheiro com os ensinamentos do meu guru e construí o Templo do Senhor

Depois outro

Outro

Hoje tenho um império

Virei pastor

Você me conhece

Sou o maior de todos

Tenho até programa na televisão

Quem foi que disse que o crime não compensa

Demétrio era otário comparado a nós, os exploradores da fé.

Doações não pagam impostos

Lavei meu dinheiro

Multipliquei minha grana

É melhor que vender armas e drogas

Tirar dindin dos idiotas da fé

É só pagar o dízimo

Eu abençoo logo

Sou o mensageiro de Deus

Minha mãe tem orgulho de mim

Acredite se quiser

Hoje eu trafico a palavra de Deus

Convertido porra nenhuma

Gosto de dinheiro

Sou o máximo

O putrafica divino

O filho do Satanás

Meu nome é Lúcifer Jr.

Pablo Treuffar

PostScriptum: Demétrio Tenório de Mello existiu, todo o resto é ficção, vai saber...