VELHOS TEMPOS

Antes as coisas eram bem diferentes, principalmente no interior.

Quando um rapaz ia pedir a mão da filha, o pai o fazia passar por duas provas:

1º- Mandava-o cortar uma bananeira com as costas do facão, de um golpe só. Se falhasse, não tinha casamento.

2º- Dava-lhe uma cana para chupar. Se o jovem começasse a descascá-la pelo pé, que é a parte mais doce, o sisudo futuro-sogro arrancava-lhe a cana das mãos, dizendo:

- Você não será um bom marido para a minha filha.

- Como o senhor pode afirmar uma coisa dessas??

- Afirmo porque conheço bem o seu tipo. Você é daqueles que aproveitam a melhor parte e jogam fora a que não presta mais.

Naquela época, era comum pedir dinheiro emprestado, pois, não havia a facilidade do sistema financeiro que temos hoje.

Certa vez, um pequeno fazendeiro, com uma carta de recomendação no alforje, partiu em busca de um empréstimo.

No dia marcado, ele acordou de madrugada, arriou o cavalo, viajou umas cinco horas e, ao chegar, foi muito bem recebido pelo próspero fazendeiro.

Sem descansar direito, foi logo tratando do assunto que o levara lá.

O dia estava fechado e parecia que ia chover.

À noitinha, após o jantar, a família se reuniu na cozinha em volta do fogão à lenha, como era de costume nas noites frias.

Cada gesto do estranho era minuciosamente estudado pelo chefe da casa que, entre um assunto e outro, pegava um pedaço de palha, esparramava o fumo desfiado, enrolava o seu cigarro e o acendia nas brasas do fogão.

Para ser agradável, o visitante o imitava. Só que, em vez de acender o cigarro com filtro nas brasas, ele pegava uma caixa de fósforos no bolso da camisa.

No dia seguinte, bem cedo, na hora de concretizarem o empréstimo, que já estava acertado de véspera, aconteceu o imprevisto.

- Sinto muito, mas não vou lhe emprestar o dinheiro que veio me pedir.

- Mas vim bem recomendado pelo seu compadre, o Coronel Osório.

- É, mas não será possível.

- Por quê? Vim de tão longe! Viajei tanto!

- Porque observei que você não é homem que sabe economizar. E fique sabendo que, quem não economiza não paga o que deve.