LEMBRANÇAS DO PASSADO - Capítulo IV

CARO(A) LEITOR(A), ESTE CONTO É ESCRITO EM CAPÍTULOS, PARA ENTENDER A HISTÓRIA, SUGIRO LER OS TRÊS PRIMEIROS CAPÍTULOS ANTERIORES. UM ABRAÇO. MARIA LÚCIA.

Tia Júlia levava a vida sempre com muito repouso, tomava seus remédios bem direito conforme a prescrição médica, consultava o médico regularmente.

Antes de tia Júlia adoecer, ela passeava muito comigo. Levava-me ao parque de diversões, à pracinhas e até ao cinema, que era muito precário, mas já havia. Não senti falta dos passeios, pois me importava era com sua vida e não o que ela me oferecia, aliás, ela me oferecia o melhor que uma pessoa possa oferecer à outra: o amor.

- Minha filha, eu já vivi muito depois daquele enfarte que sofre a dois anos atrás, agora eu me sinto enfraquecida e sinto que está chegada a minha hora. Eu ficarei muito contente, se você crescer uma moça como eu lhe ensinei. Uma moça amável, gostando sempre dos pobres, sempre que puder ajudar os pobres e a qualquer pessoa que necessitar de sua ajuda, tanto material como fraternalmente. Nunca deixe o ódio tomar conta do seu coração, pois o fim do caminho do ódio é muito cheio de espinhos e o caminho do amor termina em flores, perfumes e suavidade. Não desobedeça seu pai nunca em sua vida, mesmo se você achar que não é o melhor para você, mas seu pai sabe o que é melhor para você e acima de tudo, te ama incondicionalmente. Eu te criei como filha e sinto muito não chegar até o fim, mas devemos sempre aceitar o que Deus quer fazer conosco. Nunca afirme uma coisa por mais simples que seja sem ter certeza absoluta. Nunca testemunhe um fato com sua palavra, sem ter visto realmente. Confie nas pessoas, até que provem o contrário e tenha Deus acima de tudo, mas tudo em sua vida. - tia Júlia falava com os olhos cheios de lágrimas e segurando a minha mão.

- Tia, por que a senhora não me ensinou a chamar-te de mãe? Se a mãe que eu conheci foi a senhora?

- Não, querida! Eu não lhe ensinei chamar-me de mãe, aliás seu pai por muitas vezes me perguntou isso também mas, você teria de guardar no seu coração o carinho da palavra "mãe" e se eu tivesse lhe acostumado, você me teria como mãe e a Nazareth seria apenas a esposa de seu pai, entendeu? Você teria carinho por ela, mas um carinho diferente, e o carinho de mãe, meu amor, ninguém tem o direito de tirar, nem eu que sou verdadeiramente apaixonada por você tenho esse direito. Você deve amar sua mãe como sempre amou e a mim como seu tia que te criei com muito amor, um amor infinito... Nunca me casei, não por não ter pretendentes, mas por medo de não dar conta de criar minha família. Quando Nazareth morreu eu senti na obrigação de te criar e dedicar todo o meu amor a você.

Nisto entrou papai:

- Olá, como está, mana? Vejo que andou chorando.

- Nada, mano, é que eu estava conversando com Oscarina e me emocionei um pouco. - falou com a voz enfraquecida.

- Lançaram minha candidatura a Deputado Federal!

- Parabéns, mano, você merece e vai ganhar, aliás quem é o seu adversário?

- Meu adversário é forte, é o Antenor Novais.

- É, você precisará trabalhar muito, mano, mas se Deus quiser você será eleito!

- E você irá par o Rio de Janeiro conosco. - falou papai animado.

- Não, meu irmão, eu já estou de partida, eu quero que você seja muito feliz. E se seu desejo é se casar com Maria Araújo o faça! Deus com sua infinita graça abençoará vocês. - falava titia segurando as mãos de papai.

- Sim, mana, eu me realizo ao lado de Maria, adiamos o casamento, só enquanto você se recuperava, mas assim que você estiver boa, nós nos casaremos e seremos muito felizes, eu, você, Oscarina e Maria.

- Que assim seja, mano! Agora vou para o meu quarto repousar um pouco.

Papai e eu ajudamos tia Júlia ir para o quarto, de lá fui para o meu e papai para o dele.

Entrei em meu quarto e conversei com a bonequinha Lili:

- Bonequinha Lili, se você estivesse comigo e tia Júlia lá na sala, você até chorava pelas palavras bonitas que ela falou. Só que eu estou muito trite, pois ela só está falando em morrer. Eu não gosto desta palavra "morte", é tão esquisito, as pessoas desaparecem, a gente não vê mais...

Igual a muitas e muitas vezes escutei a bonequinha Lili me falar: "A gente não vê, mas fica com as pessoas no coração, sua mãezinha, por exemplo, você nem se lembra dela, só a conhece por fotografia e nem por isso você deixou de amá-la. Deus faz as pessoas não é para viver para sempre. Há o momento em que as pessoas têm que voltar para Deus. Se sua tia morrer, você terá que ser forte e resistir."

Chorei muito...

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 13/09/2006
Reeditado em 26/09/2006
Código do texto: T239243