LEMBRANÇAS DO PASSADO - Capítulo V

CARO(A) LEITOR(A), ESTE CONTO É ESCRITO EM CAPÍTULOS, PARA ENTENDER A HISTÓRIA, SUGIRO LER OS QUATRO CAPÍTULOS ANTERIORES. UM ABRAÇO. MARIA LÚCIA.

Passaram-se quatro dias de nossa conversa. A tarde estava muito triste, sem motivação. Tudo naquele dia estava muito triste. Sai para o jardim, as plantas estavam sem cor, minha roseira lustosa estava sem rosas, os passarinhos não estavam cantando... Eu estava de férias do colégio. Lembro-me como se fosse hoje, dia 3 de dezembro de 1941.

À noite, papai estava em casa, conversavam na sala com tia Júlia, falavam de seus planos na política, em tudo tia Júlia concordava e dava opiniões.

Em um certo momento veio-me um frio, um arrepio, alguma coisa de ruim estava para acontecer. Fui ao meu quarto deixando papai conversando com tia Júlia.

Chegando ao meu quarto estava a bonequinha Lili jogada no canto da cama. Peguei-a:

- Coitadinha! O que está fazendo minha bonequinha aqui, tão jogadinha...

Mais uma vez a ouvi: "Não perca tempo, corre lá na sala sua tia está precisando de você."

Joguei-a na cama e saí correndo. No corredor ouvi os gritos desesperados de papai:

- Iracema! Oscarina! O álcool, depressa, Júlia está desmaiando.

Corri ao quarto de tia Júlia e peguei o litro de álcool que estava no criado.

Papai passou álcool em seu pulso, em sua testa, deixou-nos com ela e foi buscar seu médico.

Eu e Iracema ficamos tentando fazê-la voltar, mas foi inútil, havia chegado a hora em que ela tanto falava. Conseguiu, porém, falar alguma coisa:

- Os... Osca... Oscarina!

- O que, titia, fala!

- Deus... Cui... Cuidará de vo... você!

Apertou minha mão, a mão de Iracema e fechou os olhos para sempre!

- Tia Júlia! Oh! Meu Deus!!!

Sai gritando pela casa enquanto Iracema também desesperada chorava sua falta.

- Não dona Júlia, não vá embora, eu gosto tanto da senhora!

Eu fiquei desesperada. Batia a mão fechada nas paredes, puxava meus cabelos, gritava...

Papai chegou com o médico.

- Lamento muito, deputado, mas não há mais nada a fazer. Infelizmente dona Júlia deixou nosso mundo... Aceite os meus pêsames...

Papai agradeceu em soluços. Ele também era muito apegado à tia Júlia, pois eram só eles dois de filhos sendo ela a mais velha. Meu avô era um homem muito poderoso, era chefe político, do qual papai herdou o dom de ser um bom político. Era dono de uma grande fortuna que deixou para papai e tia Júlia.

Minha família era muito reduzida: contava meu pai, que mamãe tinha dois irmãos, mas morreram em um aciddente de barco que afundou no rio, salvando-se apenas minha mãe e vovó Carlota que morreu quando mamãe tinha apenas quinze anos. Meu avô também morreu no acidente. Ele era alemão e ao contrário de outros conterrâneos que procuraram os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, resolveu se instalar no Norte do país, onde conheceu minha vó, neta de índio e permaneceu em Altamira até a sua morte. Quando ainda hoje volto à Altamira, muita gente ainda me fala do Sr. Stamburg.

Agora ficamos só eu e papai.

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 13/09/2006
Reeditado em 26/09/2006
Código do texto: T239291