LEMBRANÇAS DO PASSADO - Capítulo VI

CARO(A) LEITOR(A)ESTE CONTO É ESCRITO EM CAPÍTULOS, PARA ENTENDER A HISTÓRIA, SUGIRO LER OS CINCO CAPÍTULOS ANTERIORES. UM ABRAÇO. MARIA LÚCIA.

A falta de tia Júlia me trouxe até doença que quase morri também.

Não comia e fui enfraquecendo até ser preciso internar-me no hospital para me recuperar.

A casa não era mais a mesma, havia ficado vazia e sem graça...

Passava todo o meu tempo conversando com a bonequinha Lili e a olhar meu livro, o meu primeiro livro, pois acabava de sair do primeiro ano, o qual tive grande ajuda de tia Júlia nas lições e passei com a maior média da classe.

Já estávamos em 1942. Meu pai voltou a falar-me do casamento, eu concordei pois era Maria Araújo a mulher que papai escolheu para ser sua companheira oficial apesar de já ser extra-oficial.

Marcaram o casamento para o dia 15 de fevereiro. Combinaram que não haveria nenhuma festividade em respeito à memória de tia Júlia.

* * *

Chegado o dia foram ao Cartório de Registro Civil, casaram-se no civil, não casaram no religioso.

Logo uma semana depois do casamento papai começou sua campanha política viajando, às vezes ficava foram uma semana e até quinze dias.

Foi aí que dona Maria, era assim que eu a chamava, começou a mostrar o que era. Na presença de papai era amável e sorridente e na ausência era amarga, ríspida e mal humorada.

Falava com rispidez com Iracema, que nunca fora tratada desta maneira:

- Vá para a cozinha! Lugar de empregada é na cozinha!

Coitada de Iracema, nem na sala nem na sala ficava mais. Eu quem ia para a cozinha e ficava horas e horas a conversar com ela.

- O que tanto você conversa com esta empregada, menina?

- Muita coisa, nós nos entendemos muito bem.

- Ah! É? Você se dá melhor com uma empregada do que comigo, que estou no lugar de sua mãe?

- É dona Maria, mas ela é gente como qualquer um de nós. E a senhora é apenas a mulher de meu pai, não está no lugar de minha mãe, porque não existe ninguém para ocupar o lugar da minha mãezinha.

- Menina mal criada, vá para o seu quarto antes que eu lhe dê umas boas bofetadas.

Fui para o quarto conversar com a bonequinha Lili.

Era sempre a mesma coisa, quando papai chegava, ela chorava e se fazia de vítima.

Meu pai tentava conversar comigo, mas ficava muito dividido entre eu e dona Maria.

Papai conhecia a filha que tinha, mas o amor por dona Maria era cego, surdo e mudo.

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 13/09/2006
Reeditado em 26/09/2006
Código do texto: T239306