Magnético...

Não sei explicar, mas tenho certeza que sempre fora mais forte que eu.

Me atraia, me chamava, não me deixava ir embora na hora que era a hora.

Mais uma dose, mais uma cerveja, mais um cigarro...

O ventilador parecia querer parar, mas continuava girando com dificuldade. O dono do bar limpava o balcão com um pano encardido e ao invés de música, o que se escutava eram as rebatidas das bolas na mesa de sinuca.

Eu queria ir. Tinha cerveja lá na geladeira de minha casa, mas nunca conseguia sair.

Como por um imã, sempre fui atraído a ficar, e ainda como um imã, sempre acabava atraindo confusão.

Naquele dia foi assim. Pedi a sexta saideira, e saí, já que a lei havia obrigado a somente fumar lá na calçada. Foi quando vi quatro caras descendo a avenida. Um deles usava um gorro, mas quando foi chegando perto de mim, abaixou o que na verdade era uma touca ninja. Em seguida foram entrando no boteco.

Os outros três estavam bem loucos, olhos estatalados, mordendo os próprios lábios sem parar. Um tentava estalar o pescoço e tinha alguns espasmos involuntários. E eu já estava um tanto bêbado, mas a cena começou a ser antecipada em minha mente.

Não demorou o mascarado apontou uma arma para o dono do boteco e pediu o dinheiro. Enquanto o dono pegava o dinheiro, o cara se vira, aponta pra mim e diz:

_Cai pra dentro, senão atiro.

Apaguei o cigarro, entrei, sentei. Os outros imbecis olhavam na rua para ver se a polícia não passava.

Não resisti. "Si vis pacem, para bellum". Saquei da pistola que trazia na cintura e atirei no desgraçado. Caiu de olhos abertos, tentando apontar aquele ferro velho em minha direção. Atirei de novo.

Daí a raiva comanda. Faltavam 11 balas para três alvos. Cada um correu para um lado e eu distribuí bem os tiros. Um caiu sem reação, nos outros dois tive que chegar mais perto para concluir.

Quando entrei no bar e puxei a touca do assaltante, vi que era meu vizinho. Um moleque de 16 anos que até poucos dias soltava pipa na pracinha, jogava bola na rua e me chamava de tio.

Fazem sete meses. Sete meses que parei de beber, sete meses que estou afastado da corporação. Sete meses que não entro em boteco, nem para comer uma coxinha. Desde aquela fatídica noite, carrego o peso do mundo em minhas costas e tento provar legítima defesa de outrem.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 23/07/2010
Reeditado em 04/02/2011
Código do texto: T2394590
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