Mefistofélica Personagem.

Perdia-se no tempo o princípio da sua linhagem,os seus antepassados serviram com nobreza em todos os lugares do vasto império. Nos já longínquos tempos, os salões do nobre solar engalanados com fausto,transmitiam raça,serenidade, o orgulho dos bem-nascidos. A filha,bem amada,ensinada p'elos maiores mestres de então tornou-se exímia em toas as artes.Frequentou a escola como qualquer plebeia,era tradição da família.Sentiu a aragem fresca das manhãs,o riso das crianças como ela,os seus folguedos, rosavam-lhe as face.O riso, a alegria bailando nos olhos,era a plena confirmação da sua felicidade. Mas nunca deixou de ser nobre! Era a inveja daqueles que passavam a juventude dentro dos palácios dourados, mas de rosto macilento,amarelecido,triste.Lia na perfeição mestres antigos,declamava sonetos de Petrarca no original. Seus mestres tinham orgulho na aluna. Ensinavam-lhe os clássicos. Aprendia com gosto. Com rara felicidade aprendia as coisas simples do dia a dia com quem alegremente convivia. Era preciso ir mais além. Foi! Com saudade deixou as brincadeiras de criança. Foi para a grande...cidade.

Escondeu durante muito tempo a sua condição,preferiu ser uma igual as outras. Mais uma aluna.Findou o curso.Os salões engalanaram-se para receber aquela que seria o orgulho da família.Tinha chegado ao mais alto grau da sabedoria,nunca se tinha assistido a coisa igual na nobre família.No entanto a maior alegria a sublime felicidade somente a teve no aprazado dia, quando na escolínha dos seus verdes anos, juntou as crianças como então ela foi, e lhes proporcionou a maior festa que ela e elas já tiveram. Voltou ao seu mundo.O mundo de luxo e de vaidade.

Mas aquele não era o seu mundo, o mundo porque ela esperava era outro. Dentro de si chocavam-se a nobre e a plebeia. Dentro do seu ser havia lugar para as duas.

Sabia ser nobre junto dos nobres, sem deixar de ser plebeia junto daqueles que nunca esqueceu.

Passava o tempo.

Chegava de carruagem puxada por magníficos cavalos, ao teatro onde tinha lugar cativo. Há hora marcada os criados vestidos a preceito a esperavam cerimoniosos, para o regresso a casa.Frequentava com elegância as casa brasonadas, dos pares iguais a si. Não faltava a uma reunião elegante, a um concerto. Nos dias festivos, de seus dedos saía a maravilhosa musica sacra que acalmava a alma daquela gente que enchia por completo aquela pequenina Igreja.

Como sempre,o grande dia chegou. Casou.A fina flor da fidalguia esteve presente.O noivo,titulo de nobreza não tinha.Nobreza tinha ela que chegava.Era plebeu.Mas um bom plebeu.Culto.Formação académica.Inteligente.Parecia o noivo perfeito.Passaram anos,não muitos.Para desgosto dos progenitores,cada vez mais velhos,descendência não havia..A feliz noticia tardava em chegar.O noivo,então marido,adorava mais os dias felizes das festas mundanas,que o prazer

da paternidade, para crescente desgosto da noiva tornada esposa.

Ela não encarava a vida assim,sem sentido.

via esvaírem-se aos poucos os seus sonhos de criança,o supremo anseio de mulher.O lar a família a continuação do próprio ser.

Com alvoroço recebeu a noticia:Seus pais lhe proporcionaram uma viagem á Europa. Á velha Europa que ela apenas conhecia dos livros de estudo.

O sonho ia tornar-se realidade. O grande dia chegou.

O vapor(era assim que chamavam aos navios naquele tempo)estava prestes a partir.Despedidas,desejos de feliz regresso,e, boas novas.Corria leda e feliz a viagem. Camarotes magníficos, serviço esmeradíssimo, companheiros da mais alta linhagem..Era o mundo do prazer, como o despertar de um sonho.Passadas semanas esses sonhos se transformaram em realidade.Fizeram viagens maravilhosas.

As catedrais Europeias,os museus, as cidades antigas,cheias de história e de mistério, eram um bálsamo para a alma!Aos poucos a esposa foi notando um aparente desinteresse do marido,fica á porta,não mostrava interesse,dizia,em velharias.Visitaram os berços da cultura Árabe na Europa.Ficou deslumbrada com Sevilha,Granada,e outros lugares carregados de simbolismo.Salamanca,a vetusta Universidade.Barcelona,a Sagrada Família,Paris,o Louvre,Roma, Atenas,

foi um sem fim de maravilhosos dias passados.Suprema felicidade,a viagem no Expresso do Oriente,foi o marco inesquecível daquela viagem de sonho.

Chegou o dia do regresso,alvíssareiro como sempre.As boas novas não eram as boas novas esperadas.Cada vez mais frio,mais estranho o comportamento da marido.Impunha saber porquê.Não havia resposta.

Só indiferença,abandono,silêncio,mistério.

Um dia simplesmente,cruamente, frio, gelado.Foi embora.

Mistério! Desgosto...Desiludida dizem acabou seus dias,não no convento,mas numa casa de solidariedade,ajudando outros a serem felizes,sendo feliz também.

Da sinistra e mefistófelica personagem, não quis saber mais noticias.Dizem que acabou seus dias vagabundeando por esse mundo,sem rumo,sem destino. Abandonado.Só!

Quo Vadis
Enviado por Quo Vadis em 17/08/2010
Reeditado em 23/02/2022
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