Amém
Ele aparecia todo início de noite no bar. Miúdo não chegava a medir 1,60 m. Branco, muito magro, grandes e angelicais olhos verdes.
Cumprimentava a todos com o seu famoso “Amém, amém minha gente”. Passamos então a chamá-lo de Amém e ele ria com sua boca que era pura gengiva, pois dente que é bom há muito abandonara Amém.
Tinha cerca de 80 anos e ainda trabalhava como motorista de trator em uma construtora. Chegava para jantar, sentava bem lá no fundo do bar e sempre pedia o mesmo prato: arroz, feijão, bife bem fininho e um ovo estrelado bem passado, tudo isso regado a farinha.
Amém separa o bife em outro prato e pacientemente ia cortando em lasquinhas bem fininhas para facilitar o trabalho na hora de comer.
Às vezes para acompanhar pedia uma branquinha e a cada pequeno gole dava uma risadinha e estalava a boca de pura satisfação.
Era um espetáculo ver Amém comendo, bebendo e rindo. Que prazer ele sentia nos pequenos atos da vida e que risada pura e contagiante.
Ao sair o mesmo cumprimento: “Amém, amém minha gente”.
Confesso que muitas vezes fui aquele bar só para escutar o cumprimento de Amém, apreciá-lo jantando e ouvir suas risadas.
De repente Amém desapareceu. Pergunta a um e a outro soubemos que Amém foi encontrado morto em seu quartinho onde morava sozinho numa comunidade próxima.
Que falta faz Amém. Nunca mais ouvimos uma risada tão gostosa e um cumprimento tão amoroso e sincero como aquele. Os freqüentadores mais assíduos sentem a partida de Amém.
Já faz quase três anos. Volta e meia se escuta alguém dizendo: “Amém, amém minha gente”.