GALOS, LAVADEIRAS E QUINTAIS...

Era filha de dona Zica. Lavadeira dessas de beira de rio. Tadinha era seu apelido, (nunca ouvi chama-la pelo nome). Ia toda manhã de chuva ou sol, acompanhando a mãe para a beira do rio agarrada em sua saia. Franzina, pequenina, talvez por isso chamavam-na de Tadinha. A menina adorava a lida da mãe Zica, principalmente quando dava surras nas roupas contra as pedras. Mas Tadinha sentia que faltava algo pra completar a beleza daquele lugar. O rio, as pedras, os caramujos, a pele esturricada da mãe. Faltava alguma coisa que trouxesse magia para aquela atmosfera. Zica terminava a lida por volta das onze da manhã, fazia uma pequenina trouxa e colocava sobre a cabeça de Tadinha e uma outra gigantesca para a sua cabeça, que com os anos de lida, equilibrava como ninguém. Iam as duas léguas e léguas por uma estrada de terra tendo o silêncio como companheiro. Tadinha continuava sentindo falta de alguma coisa, mas engolia seus pensamentos com sua seca saliva e seguia adiante estrada à fora até chegar em casa. Num dado momento, já de manhãzinha, enquanto sua mãe preparava a roupa suja daquele dia, Tadinha apoiada pelos tijolos velhos que adornavam o seu quintal, viu que o vizinho havia adquirido um galinho garlinzé numa feira do bairro. Ouviu encantada quando o galo deu seu primeiro sinal de vida. Resolveu então, visitar o canto do galo todos os dias de manhãzinha e guardar aquela música em sua memória de menina. O que tadinha não sabia, era que dona Zica, sua mãe lavadeira, fazia, dentro da sua timidêz, exatamente a mesma coisa. É claro que dona Zica não tinha mais a memória de menina. Se sentia descompensada e não conseguia guardar tudo o que ouvia do galo. Então resolveu juntar uma nota aqui outra acolá, até que as notas virassem uma canção. Era uma parceria. Zica, a lavadeira silenciosa e garlinzé, o galo cantor do vizinho. Num dia de lida, sol muito quente, havia na margem do rio sete ou oito lavadeiras que se comunicavam em silêncio. tadinha arranhou a garganta, engoliu a saliva e começou a cantar tudo o que havia aprendido com o galo e que guardara em sua memória de menina. Dona Zica ouvindo aquilo, sentiu vontade de ralhar com a menina, mas fez diferente. Arranhou o pigarro da garganta e juntou-se à tadinha. E não é que a danada já tinha uma música prontinha de tanto juntar notinhas aqui e acolá!! as outras lavadeiras aderirem à festa e cantaram também. Era o que faltava para deixar mágica a atmosfera na beira do rio. Acreditem voces, o danado do galo é o responsável pela cantoria de todas as lavadeiras por esse mundo de meu Deus.

Minha admiração em especial às lavadeiras

cantoras de Almenara.

Quem conta um conto, aumenta um ponto!

Só sei que foi assim!!

Aninha viola
Enviado por Aninha viola em 26/09/2010
Reeditado em 12/05/2013
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