A escolha de Clara

Clara era uma jovem ambiciosa. Não estava satisfeita de morar no subúrbio do Rio de Janeiro e ter um emprego que mal dava para sobreviver. Queria mais, muito mais.

Casara-se com Ricardo, pois partido melhor não apareceu. Além do mais ele era formado e mais bem empregado do que ela. Teve também aquele sexto sentido de mulher que lhe dizia que ele venceria na vida.

Clara era leviana, volta e meia dava escapadas com outros homens. Nunca repetia o parceiro, pois só queria aventura e nada mais.

O pobre do Ricardo não percebia nada e dedicava todas as suas noites ao estudo, pois queria um emprego bem melhor e estável, e tinha decidido que iria passar no concurso público para fiscal.

Ele estudando e Clara se esbaldando.

Ela tomava todas as precauções, pois não poderia sob hipótese nenhuma engravidar. A razão não era de ordem moral e sim prática, Ricardo era estéril.

Ele nunca escondeu isso e desde o namoro abriu o jogo. Clara ambiciosa que era, aceitou a situação.

Mas o desejo de ser mãe vivia a atormentá-la. Já haviam combinado que iriam adotar uma criança, logo que estivessem em melhor situação financeira, mas tudo o que o coração de Clara desejava era engravidar e ter o SEU filho.

Ricardo fez um, dois, seis concursos e finalmente passou para fiscal do ICMS. Sua classificação o levou para o MS - Mato Grosso do Sul.

Clara ficou no Rio tratando de vender o pequeno apartamento que possuíam, enquanto Ricardo assumia seu posto e escolhia uma casa para morarem.

Foram dois meses para que Clara e Ricardo estivessem juntos na nova casa. Nesse tempo Clara aproveitou estar provisoriamente solteira e se esbaldou na cidade maravilhosa.

Logo que foram morar na nova casa o casal adotou um bebê a quem deram o nome de Luana.

Mais de quinze anos se passaram. Clara terminou sua faculdade de Direito fez concurso em MS e hoje é juíza. Sim ela é Doutora Clara importante e respeitada figura na cidade.

Ricardo com a sua competência e honestidade reconhecida hoje chefia a fiscalização do ICMS do Estado.

Para terminar Luana está nos preparativos para sua festa de quinze anos.

A felicidade parece que é completa naquela casa, parece.

Toda a noitinha enquanto todos estão dormindo Clara caminha vagarosamente até o belo jardim nos fundos da casa, senta-se na cadeira de vime e fica olhando para o céu. O olhar é sempre dirigido a um pequeno ponto brilhante que ela chama de sua criança.

Grossas e abundantes lágrimas correm pela sua face. É a única maneira que ela tem de desabafar. Ela com ela mesma.

Todas as noites o olhar de Clara é sempre e tão somente para a sua criança, aquela pequena estrela que há mais de quinze anos ela teve dentro de si durante dois meses.

Sim, apesar de todos os cuidados e enquanto Ricardo assumia seu posto em MS, Clara engravidara numa de suas aventuras.

Seu maior sonho que era de ser mãe poderia se realizar. A surpresa junto com a alegria rapidamente se desfez e a colocou face a face com a realidade. Ricardo era estéril, não havia outro caminho para ter aquela criança a não ser contando a verdade.

Mas ela conhecia Ricardo. Apesar de amá-la ele não aceitaria nem a traição e nem a criança.

Era uma situação difícil. O coração desejava mais do que qualquer coisa que a gravidez seguisse o seu rumo, mas.....

Assim toda a noite Clara olha para a sua criança com o infinito a separá-las. As lágrimas que sempre caem em abundância parecem indicar que a escolha não foi acertada e o preço a se pagar caro demais.

Rogério Vianna
Enviado por Rogério Vianna em 27/09/2010
Reeditado em 01/10/2010
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