SAPATINHO DE VERNIZ


Helena nasceu em 08 de fevereiro de 1959, era carnaval, muita euforia, festa na rua e de uma certa forma festa em sua casa. Festa sim, mas dessas que nem sorriso se tinha. Uma família pobre e com muitos filhos. Vida nada fácil...tudo que queria seus pais não podiam comprar, nem comida se tinha.
Helena cresceu e também cresceram seus sonhos.
Ainda menina, sonhava em trocar seus sapatinhos de plásticos, na época não era moda usá-los era símbolo de má situação financeira, por um sapatinho de verniz...Um simples sonho, mas impossível para seus pais realizá-lo.
Certa tarde sentada a beira da calçada pensava na possibilidade de ter um. Um pensamento surgiu no de repente de criança sapeca que era.
Atravessou a rua e bateu na casa de Dona Carmem, que até hoje é sua vizinha. Pediu emprego.
__Quero trabalhar. Posso trabalhar em sua casa?
Dona Carmem achou engraçada a situação, um “tico” de gente querendo trabalhar.
__Por que quer trabalhar?
__Quero comprar um sapatinho de verniz preto novo.
Risos novamente. Dona Carmem conhecia a situação difícil em que sobreviviam. Poderia ela ter dado de presente o sapatinho, mas achou melhor conceder-lhe a oportunidade do “trabalho” na verdade sua intenção era cuidar de Helena, alimentando-a, dando-lhe carinho e, permitindo que brincasse com seus filhos que eram quase da mesma idade. E pagava pra isso.
Três meses se passaram e Helena levava a sério seu trabalho, achava que deveria brincar com Liliana, Lenira e Vaguinho e até atulerar as brigas, que não eram poucas.
A irmã mais velha de Helena, Cida guardava com carinho o dinheiro e, quando já o tinha o suficiente para a compra, foram ao passeio mágico no centro da cidade para comprá-lo.
Foi um dia bastante encantador para Helena que entrava de loja em loja, parecia uma princesinha, na busca da realização de seu sonho.
__É esse gritou ao vendedor !!
Seus sapatinhos estavam nas mãos de uma outra princesinha. O vendedor trouxe um igual à Helena.
Ao chegar em casa colocou os sapatinhos e foi fazer um desfile na calçada de sua casa. Andava de um lado para outro, principalmente quando um vizinho passava. Mas, ninguém notou que seu sapatinho era de verniz, preto e novo. Lembrou-se que a calçada da vizinha era de cimento e talvez o barulho pudesse chamar a atenção...Atravessou rua. Junto levou sua esperança.
Toc, toc, toc...Desfilava Helena com uma princesa. Mas, ninguém notou que ela usava um sapatinho de verniz, preto e novo. Entristecida sentou-se a beira da calçada com as mãos segurando seu rosto de menina.
Coincidência ou não naquele momento de pura frustração passava o caminhão da pioneira (nome da empresa coletora de lixo). Não pensou muito, tirou dos pés seu sapatinho de verniz, preto e, novo e atirou dentro do caminhão de lixo.
Foi para casa, triste, magoada, infeliz. Quando sua mãe olha para seus pés logo indaga:
__”Cadê” seus sapatinho?
__Entre choro de tristeza, enxugou as lágrimas com a manga da malha que usava e respondeu:
__Joguei no lixo junto com meu sonho.