Dissidente.

É 15 de junho de 2.010, terça feira, 15hs:38min.

A seleção brasileira acaba de estrear na copa contra o podre país Coréia do Norte, afundada em ditadura ferrenha.

Nossa nação, desde a copa de 70, lírica e fantasiosa, com Pelé e companhia, nutre o ideal ufanista igualitário de vencedores de alguma coisa, mesmo que uma copa do mundo de futebol. Milhões de pessoas remetem seus sonhos particulares às glorias de nossa seleção de futebol que, miraculosamente, cura até doentes terminais.

Com isso seria sobremaneira interessante santificar nossa seleção.

Na copa de 70 e nos períodos que a antecederam o Brasil vivia um inferno ditatorial virulento, a ponto de em 69 implantarem um “ato institucional” restringindo direitos fundamentais, como a livre manifestação do pensamento. Muitas famílias perderam seus entes naquela fase negra. Mesmo assim conseguiram calar os “dissidentes”, tidos como subversivos, e, com a conquista da copa, fechara-se a questão.

Quando a seleção ganha uma copa, tire os exemplos das anteriores, a população imerge num “torpor” carnavalesco e se esquece fantasiosamente de seus problemas particulares e conseqüentemente dos gerais. É como se recebessem na veia uma dose cavalar de anestésicos a ponto de se abestalharem. Como se estivessem drogados. Alienados.

Hoje não é assim. É diferente, com “ditadura” enrustida, velada, sem que o “povo” sinta na carne. Vivem às mil misérias, acobertados pelo manto da ignorância, almejada por todas as ditaduras, sonhando sob golpes, escândalos e falcatruas. Se um dia cerrassem os olhos, desligassem televisores e refletissem sobre a grandeza do país em que vivem, as coisas, talvez, talvez mudariam...

Mas pensar “dói tanto”... É mais fácil puxar a carroça do estado, abarrotada de gordos sangue-sugas...

Mas não, infelizmente vivem atribuindo suas agruras ao político corrupto que lhes prometera uma “vantagem” e que, no entanto, depois de investidos no cargo, não lhes dão a mínima, tirando ainda por cima sarro em suas caras magras, sem sequer se lembrar que existiam no dia em que lhes mandaram aquela “cartinha” barata, patriota, pedindo um voto para tentar “mudar as coisas”; que são diferentes e que vão de fato trabalhar para o bem geral da nação, implantando bolsas de todos os tipos para os pobres.

É tanta hipocrisia que causa ânsia de vômito ver todos agora deixando suas vidas pessoais para se aglomerarem defronte um televisor “numa só emoção”.

Gostaria até de ter pena caso a pena não fosse um sentimento demasiadamente mesquinho por parte de quem sente. No entanto, sinto pena unicamente de mim mesmo, para ser verdadeiro, pelo fato de não ter “cabeça” para pensar com a maioria pensa! Por pensar assim e me ver só numa ilha vazia.

Juro que gostaria de me ver agora com uma camiseta amarela e uma bandeira vibrando com todos a cada lance! Mas não, me é indigesto e além do mais tenho estômago fraco.

Ouvi dizer que acabou o primeiro tempo: 0 X 0...

Que o segundo tempo seja diferente...

Que não deixemos (nossas vidas) para prorrogação e pênaltis...

Savok Onaitsirk, 15.06.10.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 31/10/2010
Código do texto: T2588381
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