Galinóia.

Era uma tarde de sábado ensolarado quando Galinóia começou a perceber um burburinho estranho vindo do fundo da casa de seu dono, que havia saído para ir ao supermercado comprar sua ração diária de ódio.

Galinóia estava ansiosa, querendo algo a mais.

Foi quando decidiu verificar o que ocorria para tamanho estardalhaço.

Indo lá, no fundo da casa, visualizou o irmão de seu dono revirando tudo, às pressas, numa loucura estranha, enquanto entornava uma garrafa da “branquinha”.

Galinóia vivia faminta, louca por tudo que fosse comestível e que estivesse a seu alcance.

O irmão do dono não concatenava muito bens das idéias. Magro e surrado, bebia cada vez mais vorazmente a garrafa da maldita cachaça barata. O sol estava bravo, torrando tudo.

Galinóia, cansada do terreiro, estava preocupada. Esse dono que nunca chegava, e ela ali sozinha com aquele demente. O que fazer? E a fome?

De repente, um silencio estranho. Viu que o irmão do dono havia ido ao banheiro, sabe-se lá fazer o quê.

Daí em diante suas recordações são póstumas.

Notou que havia uma pequenha “trouxinha” de alguma coisa sobre a pedra suja que ficava no fundo do quintal. Uma coisa aparentemente apetitosa. E a fome? Pensou.

Não pensou mais, foi lá e abocanhou a trouxinha com um prazer incomensurável. Algo para forrar o estômago, uma vez que galinhas não se importam muito com paladares.

Algo estranho, ou estragado, fez com que ficasse meio estonteada, talvez fosse o calor...

Foi daí que surgiu o louco do irmão do dono atirando-lhe pedras e mais pedras, correndo atrás de Galinóia pelo terreiro a fora.

Galinóia não sabia o que se passava. Pedras e mais pedras esvoaçavam sobre sua cabeça de ave chapada.

A partir de então não se recorda muito mais dos fatos. Sabe que fora capturada e esfaqueada. Viu de relance, já mais pra lá do que pra cá, quando os olhares esbugalhados do irmão do dono encontraram o que queria.

Ela estava com fome, comeu a pedra de crack do irmão, e levou pedradas até a morte!

Galinóia não era viciada, só estava com fome!

Savok Onaitsirk, 16.11.09.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 04/11/2010
Código do texto: T2596088
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.