Ladrão Deixa de Roubar Para Assistir Jogo da Seleção...

O Zeca era bandido de longa data, mais especificamente da área do 155.

Todo dia, antes de se levantar do colchonete que dormia num barraco do Capão Redondo, Zeca mentalizava, assim com os norte-coreanos, um assalto que lhe garantisse o dia. Queria apenas o dia, “o amanhã a Deus cabe!”, dizia baixinho, “e também não quero prejudicar ninguém!”, arrematava.

Zeca era um bandido consciente, daqueles que se um dia pegos, deveriam ser absolvidos pela justiça, tão dignos e conscientes que são.

Existiram alguns assim no decorrer da história da bandidagem, e Zeca era um deles, porém de menor potencial ofensivo.

Era 15 de julho de 2.010, Brasil e Coréia do Norte pelo primeiro jogo da seleção brasileira na copa. Zeca dormiu bem na noite passada, depois de devorar uma feijoada de latinha. Tinha um “trabalho logo no dia seguinte, pois era dia de jogo do Brasil e ele pretendia assaltar um banco no momento em que todos estivessem entretidos com o jogo. Sonhou com uma festa grandiosa, pessoas sorrindo e soltando fogos de artifício uns contra os outros, enquanto ele passava num carro, às pressas...

Acordou e foi logo dando iniciativa a seu projeto copa 2.010.

Nota do escritor: Evitarei aqui maiores fadigas no sentido de expor os atos preparatórios do delito, por economia processual-mental.

Eram duas da tarde, o jogo seria as três e trinta, e cidade e comércio estavam fechando. Zeca zanzava cantarolando... Fumou alguns cigarros e sorriu sozinho com relação ao que faria com a grana:

“Uma casa pra mãe, uma mobilete pro pai, uma boca de fumo pro irmão e um namorado pra irmã. Tudo certo. Ele mesmo só queria um pouco mais de comida, pois seus dias pretéritos tinham sido magros. Só enlatados furtados à míngua de um estômago roncante na mercearia do seu Pedro Toledo. A penúltima (assaltada) veio com uma lata de salsichas vencidas. Quase foi parar na santa casa. Vomitou até as tripas.

Queria uma comida melhor, fresca, saudável, farta e variada. Salada, palmito, morangos, bolos diversos, uhh!!... Sonhava Zeca, enquanto mais uma baforada no maldito cigarro...

Sonhando atrasou-se. O jogo acabara de começar. Tinha que ir.

Caminhando passou dentro de uma galeria onde uns maconheiros assistindo ao jogo, bebendo nova schin. No momento em que se aproximava percebeu um burburinho. A Coréia acabara de fazer um gol!

Putz! Pensou, logo a Coréia do Norte, ou melhor, Coréia da morte do ditador maldito!

Não resistiu e resolveu fumar mais um cigarro assistindo um pedacinho do jogo. Só um pedacinho!

A Coréia incrivelmente arrasava. Em mais quinze minutos fez o segundo e logo em seguida o terceiro. Um show inimaginável. Comentaristas do mundo inteiro estava boquiabertos. O que era aquilo? Os mirrados coreanos voavam sobre os brasileiros, que estavam paralisados com a velocidade oriental. Talvez estavam travados pela mentalização coreana, do ditador do caralho!

No final o mundo do futebol estava abalado. Redes do mundo todo noticiavam sem parar os “coreanos voadores”, que golearam a seleção brasileira por 9 X 0, fora o baile, numa nova técnica de jogar futebol. Alguns diziam ainda que os coreanos reinventaram o futebol e que aquele jogo seria um marco na história.

Contudo isso sabe-se que Zeca ficou tão surpreso e se enturmou com os maconheiros, que pensavam seriamente em se tornarem comunistas...

Savok Onaitsirk, 15.06.10.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 08/11/2010
Código do texto: T2603270
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