A METÁFORA DO VINAGRETE OU UM CLIENTE CHATO

Um triste homem passava pela rua quando, pensativo, parou em frente a um pomposo restaurante. Observou a fachada do lugar como que pra conferir se estava no local certo e entrou. Escolheu uma mesa um pouco afastada do local onde os clientes se concentravam e sentou sozinho, à espera de alguém que viesse anotar seu pedido.

O homem aparentava ter por volta de cinqüenta anos, seus cabelos grisalhos davam conta da sua idade. O rosto melancólico, pesado e enigmático contrastava com o terno e a gravata que lhe davam a aparência de alguém bem sucedido. Não carregava nada nas mãos, na verdade, uma das mãos trazia dentro do bolso. Sentado ali, ele observava o movimento no lugar, as pessoas que conversavam e riam alto, os garçons que corriam para atender os inúmeros pedidos.

De súbito, o seu silêncio é quebrado. Um garçom aproxima-se e pergunta o que ele desejaria consumir. Ele abre um sorriso tímido e responde:

– Será que poderia me trazer uma porção da melhor carne e um pouco de vinagrete?

O garçom, prontamente, anota o pedido e sai. Não demorou muito até que ele voltasse carregando a bandeja, que deixava o cheiro delicioso da comida por onde passava.

Antes mesmo que o garçom pudesse deixar a mesa, o homem provou um pouco do vinagrete e disse:

– Isso não está bom.

Um pouco aturdido, o garçom reage:

– O que? O vinagrete não está bom, senhor?

– Exatamente, ele não está bom. – respondeu o homem.

– Vou providenciar outro agora mesmo. – dizendo isso, o garçom saiu um pouco incrédulo.

O homem cortava a carne tranquilamente, mas sem levar à boca um único pedaço. Até que o garçom voltou, entregou ao homem uma nova porção do molho e esperou o veredicto deste:

– O gosto está péssimo. Certamente, ou as verduras já estão podres ou o vinagrete passou do prazo de validade.

O garçom já começava a ficar impaciente, nunca lhe ocorrera situação semelhante. Ele novamente prometeu que reverteria o ocorrido e retirou-se. Dessa vez, ele foi ao encontro do gerente e relatou a situação. Este mandou que um dos funcionários fosse ao supermercado mais próximo e comprasse todos os ingredientes necessários para fazer um novo vinagrete, enquanto outro funcionário fosse verificar se as iguarias utilizadas para fazer o molho anteriormente estavam em boas condições. Além disso, pediu ai garçom que lhe avisasse quando o vinagrete estivesse pronto, pois ele mesmo iria servir ao homem.

Com a carne toda cortada no prato, mas sem nenhuma parte faltando, continuava observando ao público o homem de cabelos grisalhos. Apoiou o queixo no braço que repousava sobre a mesa, como se estivesse cansado. Alguns minutos depois, aproxima-se um homem de sua mesa com o molho sobre a bandeja. Ele apresenta-se como o gerente do local e pede desculpas pelo transtorno. Sugere que o homem deguste o novo vinagrete. Em réplica, o homem põe um pouco na boca enquanto o gerente espera alguma resposta.

– Isso aqui está horrível, mas não precisa trazer outro. Por favor, traga-me apenas a conta.

– Desculpe-me senhor, aguarde um momento que vamos resolver isso. – Suplicou o gerente.

O homem concordou em esperar um pouco mais. Enquanto isso, o gerente pedia a um dos garçons que trouxesse até a mesa todas as porções de vinagrete servidas anteriormente ao homem, para que ele pudesse comprovar a veracidade do julgamento.

Quando o garçom chegou trazendo os vinagretes, o gerente fez questão de prová-los, cuidadosamente, um por vez. Ao final da degustação ele virou-se para o homem e falou:

– Eu não entendo porque o senhor falou isso. Todas as porções possuem o mesmo gosto, que por sinal é maravilhoso. Isso prova que nem o vinagrete está estragado, nem os ingredientes usados para sua produção.

O homem olhou serenamente e disse:

– Exatamente. Esse é o problema, todos possuem o mesmo gosto. Como pode? Alimentos diferentes deram origem a cada uma dessas porções e talvez até pessoas diferentes tenham-nas preparado, e mesmo assim são iguais. Tudo está igual. Todos estão iguais.