Rua Rodhésia.

Tudo começou com o vento... Estávamos todos cansados demais, tristes e fodidos, para tecermos considerações específicas sobre as “coisas da vida”, sobre momentos, circunstâncias.

Era na rua Rodhésia onde devíamos descer: Mercearia São Pedro, Vila Madalena. À pé, metrô, táxi ou ônibus, ou os três, eis a dúvida. Tudo de acordo com as condições financeiras e o cansaço, obviamente.

O vento ameaçava derrubar o “apertamento” do Dom. Mesmo assim o mesmo mantinha-se impassível, como de costume. O Dom sempre foi um mistério, típico de sua personalidade...

Vive de forma atípica, não se coadunando com os costumes, ou hábitos, das sociedades de consumo. Poderia-se dizer um excêntrico, caso não se ofendesse. Mesmo que isso acontecesse, a ofensa, jamais deixaria transparecer. É um gentleman, um diplomata, vivendo dentro de si mesmo, com suas opiniões e idéias, compartilhando as dos outros com tudo e com todos; as suas, porém, compartilha consigo mesmo, dentro de sua “vida interior”, com raras exceções de extravasamento, dentro das “possibilidades e circunstâncias”. Por isso somos amigos de longa data.

Enviou-me um dia uma correspondência sobre uma revista da “folha”, contendo uma reportagem a respeito de uma tal mercearia São Pedro. Li e falava sobre “garrafas peludas” e garçons que fugiam dos clientes; algo estranho, tradicional e “cult”, freqüentado pelo Ignácio de Loyolla Brandão, Raí, Nando Reis, Márcia Denser, Sócrates, Platão e Aristóteles..., além do França, o garçom, um dos raros que não dava a mínima pára clientes, patrões, proprietários, otários ou gerentes. Um louco que deu sorte no emprego por gostarem de seu jeito original de ser.

Agendamos e fomos. Viajei setecentos quilômetros para tanto. Sol, chuva, diarréia e tudo de bom.

Pegamos metrô e, como a chuva “ácida” nos corroia e não conhecíamos nada daquela região, pegamos em seguida um táxi. Mentimos que já conhecíamos o local, para que porventura o taxista não o se utilizasse das artimanhas clássicas dos taxistas, que se aproveitam daqueles que não conhecem o local aonde vão para rodarem um pouco mais.

Não que desconfiássemos dos taxistas, que em sua maioria são gente boa, assim como em toda classe existem calhordas, não, é porque o dinheiro estava mesmo contado.

Por um momento perdi a paciência ao tentar-me acalmar. Estava “dinamite”, ao modo de Nietzsche, mas não me arrebentei, ao menos daquela forma, nem meti “marteladas” al léu, que sequer conhecia.

“Animais festejaram a sangrenta vitória sobre os humanos. Soltaram fogos de artifício; soltaram fogos pelas ventas. Um deles estourou um foguete no rabo. Não se sabe como.

Hoje, infelizmente, anda com cadeira de rodas...

José Cuervo, aquele sujeito peludo, um dia me disse tudo isso..., e eu, bestamente, acreditei...

Chovia... Chovia muito... E ventava...

Savok Onaitsirk, 29.09.09.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 28/11/2010
Código do texto: T2641497
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.