EM MEIO AO DESESPERO E A ESPERANÇA É BOM SABER COM QUEM SE ANDA.

Fui fazer certo dia um trabalho de escola, foi aí que conheci a história de um garoto. Cheguei a uma comunidade que fica bem perto de onde eu moro e comecei a ver a disposição das ruas, das casas (barracos), de como os postes são um emaranhado de fios que não conseguimos distinguir se são realmente ligações legais ou simplesmente os famosos gatos. O tempo voou e eu nem havia percebido, estava com pressa pra fazer meu trabalho que deveria ser entregue em dois dias e não tinha conseguido fazer se quer uma linha... Aquela altura tinha a certeza de que tomaria uma “bela bomba” na matéria. Quando já estava me preparando pra ir pra casa ouço alguns barulhos e de repente uma grande explosão, gente correndo pra todos os lados e eu sem saber pra onde ir, em poucos minutos as ruas ficaram desertas os comércios de portas fechadas e eu me sentindo como no filme da cidade de Deus, ao longe vi alguns carros de polícia seguidos de vários policiais que adentravam na comunidade como no filme tropa de elite. Por alguns segundos fiquei atónita e quando dei por mim, uma senhora de traços sofridos e com um lenço amarrado na cabeça me pegou pelo braço e me arrastou pra dentro de sua humilde casa, me ordenando pra que me jogasse no chão por debaixo de uma mesa feita da madeira de uma placa de campanha política. Dizia ela que se eu não a obedecesse poderia morrer, como se um simples pedaço de madeira poderia suportar o impacto de uma “bala” de fuzil. Os traficantes e os policiais começaram uma verdadeira guerra urbana que nenhum noticiário ou reportagem da televisão puderam me dar à ideia do que eu estava presenciando. Debaixo daquela mesa que em minha opinião não comportava mais que duas pessoas estavam eu, a dona da casa, e mais dois filhos seus, Poliana de treze anos e seu irmão de vinte, um garoto chamado Romário que mais tarde vim saber que havia sido adotado pela dona Marta por ter sido abandonado em um latão de lixo na esquina de sua casa. Os tiros e explosões demoraram umas quatro horas que mais pareceram uma eternidade, passado todo aquele pesadelo e eu morrendo de medo, comecei a imaginar de que maneira eu iria voltar pra casa, pois, já se passavam dás 21:00 horas. Tentei ligar para meus pais pra dizer o que havia acontecido, mas meu celular estava com a bateria descarregada, então o Romário se ofereceu pra ir comigo até um orelhão que ficava a uns 3oo metros de sua casa, eu relutei de imediato por medo de os policiais e traficantes recomeçarem todo aquele horrível confronto, dona Marta então me explicou que quando os tiros cessavam e não se ouvia mais nenhum barulho poderíamos sair sem nenhum problema, a não ser se focemos abordados pelos policiais que iriam nos tratar como bandidos e se déssemos sorte não apanharíamos ou coisa pior. Não sei o resto do mundo, mais eu, ao invés de ficar mais tranquila, me apavorava a ideia de sair dali, como se não bastasse o medo de encarar as ruas lotadas de traficantes agora também poderia ser confundida com um deles, mas como tinha que dar noticias pra minha família que àquela hora provavelmente já estavam cheios de preocupações, engoli meus medos e aceitei ir até o orelhão. Quando consegui finalmente fazer o telefonema, minha mãe atendeu chorando e me disse que esperava pelo pior porque tinha assistido a reportagem no jornal da noite que uma tropa da polícia tinha entrado na comunidade em busca de um traficante e que várias pessoas se feriram no confronto, eu expliquei que estava bem e disse-lhe que só poderia voltar para casa no dia seguinte e que iria dormir na casa de uma senhora que me dera abrigo. Já me sentindo um pouco mais segura pela companhia de Romário voltei à casa de dona Marta, o relógio já marcava quase meia noite quando consegui deitar minha cabeça em um travesseiro, mas infelizmente o sono não vinha para tranquilizar minha mente que latejava pelas lembranças de poucas horas atrás, não conseguindo dormir, levantei-me e fui tomar um copo de água e de repente levei mais um grande susto, uma mão um tanto áspera e robusta tocou-me no ombro foi como me puxar para um abismo, meus pés perderam o chão e o copo que tinha nas mãos estilhaçou-se ao cair, foi quando ouvi a voz de Romário me pedindo para ter calma e perguntando redundantemente se eu não estava conseguindo dormir, senti um misto de alívio e vergonha pela forma que reagi, sentei diante da mesa que continha a inscrição de vote “Paulinho do buteco” enquanto Romário preparava um achocolatado que dizendo ele me faria relaxar os nervos. Ficamos conversando por alguns instantes e quando eu já estava prestes a sentir o peso do sono, Romário começa a me fazer um relato de como seu irmão Marcos que era filho verdadeiro de dona Marta e teria hoje pouco mais que sua idade foi executado por policiais enquanto voltava de uma festa de comemoração ao titulo conquistado pelo seu time de futebol e ninguém sabe até hoje o motivo de sua morte. Nessa hora me despertou o sono de vez e eu me interessei pela história de como tudo ocorreu, já que meu pai tem um primo que é da corregedoria da policial. Romário e sua família só sabiam o que as pessoas que estavam naquela comemoração falavam e as histórias eram variadas e divergentes. Todos na comunidade sabiam que Marcos era viciado em drogas, porem sabiam também que nunca precisara roubar ou coisa parecida, pois, seu salário como mecânico industrial compensavam os gastos com seu vicio. As horas passaram novamente e eu sem sinal de sono, tomada pelo interesse na história que Romário me contava; fomos dormir já eram mais de 02:00 horas da manhã. Fiquei amiga daquela família e em poucas semanas eu e Romário começamos a namorar. Passado alguns meses, o fato de dona Marta não se conformar com a morte de filho, procurei o primo de papai para marcar um encontro e lhe perguntar se sabia de alguma coisa ou relato do fato acontecido com o filho de dona Marta. Quando nos encontramos ele estava com uma pasta nas mãos e enquanto conversávamos, ele me mostrou várias fotos e nomes tanto de pessoas ligadas a força policial quanto de civis, porem com um fator em comum todos faziam parte de uma facção, disse me pedindo sigilo estavam prestes a serem presos por formação de quadrilha, trafico, extorsão, assalto, sequestro e tantas outras coisas e que Marcos era um informante da policia que fazia a investigação do caso, contou também que a informação vasou e que por esse motivo Marcos foi morto. No mesmo dia já descaçada de tudo o que tinha acontecido, entrei em contato com Romário e marcamos de nos encontrar, contei a ele tudo o que o Primo do meu Pai havia me dito e que tinha pistas sobre o porquê e por quem seu irmão havia sido morto, mas precisava que ele tivesse um pouco de paciência que logo tudo estaria esclarecido. O que eu não sabia é que Poliana estava sendo aliciada por um dos traficantes daquela comunidade e que tinha ouvido toda a nossa conversa. No fim de semana ouve um baile funk e Poliana na ânsia de conseguir drogas, pois já estava viciada vendeu a informação a seu namorado, que tratou logo de alertar seus comparsas. Poliana foi estuprada e morta pelos traficantes, dona Marta queimada dentro de sua casa, Romário assassinado a pauladas em frente à escola onde dava aulas de capoeira e o Primo do meu Pai é tido como desaparecido.

Moral da história:

E a mim, restou-me lhes dizer que contra a grande máfia que circunda as drogas, devemos estar alertas até mesmo com as pessoas que nos deviam cuidar.

(Texto escrito em parceria com minha querida irmã Meire para um trabalho da faculdade 24/11/10)

pavarim
Enviado por pavarim em 28/11/2010
Código do texto: T2641798
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