AMOR FILIAL?...

Ironicamente, no mês em que se comemora o Dia do Idoso, conheci o drama de uma mulher idosa, o qual narro precisamente no mês das mães...

A história parece inverossímil, porém, é deploravelmente verídica...

É de uma senhora que, ao ficar viúva, foi sugestionada pela filha a vender sua bela casa, seu patrimônio, e ir morar com ela.

A mãe, na maior boa fé, seguiu o conselho, vendeu tudo; foi morar com a mesma e..., atualmente, encontra-se num asilo de idosos de certa cidade ao sul do Paraná.

A história se passou da seguinte maneira:

A filha ao ver que sua mãe enviuvou, tornando-se herdeira de farto legado em bens imóveis, uma fortuna considerável, teve sua ambição aguçada...

Comentou com o marido que iria propor à mãe vender tudo, investir o dinheiro e ir habitar numa casa que possuíam nos fundos da residência.

O marido ao ouvir a idéia da esposa, indagou sobre onde ela queria chegar com tal intenção. Esta respondeu que o plano era: a mãe, senhora com 75 anos de idade, já um tanto adoentada, deveria aplicar no mercado financeiro o resultado da venda dos imóveis e nomeá-la sua procuradora para administrar tais recursos.

O homem ouviu a argumentação, e até achou interessante, aconselhando-a seguir avante com a idéia.

Não demorou muito à senhora negociar seus bens, apurar grande quantia em dinheiro e depositá-la conforme lhe fora sugerido.

Mudou-se à casa da filha, na tal que fora adredemente preparada para recebê-la.

No início, tudo foi somente alegria e festa.

Algum tempo depois, a filha começou a demonstrar certa contrariedade quando sua mãe passou a perguntar sobre as aplicações financeiras, dizendo que pretendia usar o resultado destas em obras de benemerência, junto a entidades assistenciais.

A filha disse que era um absurdo; a mãe deveria pensar no futuro de sua primogênita e família, afinal, era o que lhe restava; o patrimônio deveria ser aumentado ou, em caso de utilização, que o fosse com a família; ela que parasse com estas idéias de patrocinar assistência social, pois isto era obrigação do governo.

A mãe não se convenceu com a argumentação da filha, asseverando não desistir da idéia acalentada; que lhe providenciasse os tais recursos para levar adiante seu plano.

Bem contrariada, nos primeiros meses ela repassou à mãe o que fora solicitado, todavia, foi dando um jeito de diminuir os valores pouco a pouco, até que a genitora reclamou do porque daquelas quantias, ao que a filha redargüiu que não iria permitir fosse o dinheiro jogado fora, e, sendo ela responsável pela administração do mesmo, as cotas seriam as menores possíveis e ponto final.

A pobre senhora teve uma comoção diante da atitude da filha; não imaginava tanta dureza de coração, tanta mesquinhez.

Daí em diante começaram os desentendimentos mais sérios entre elas; discussões intermináveis, às vezes a filha xingava em altos brados aquela que permitiu viesse à vida na Terra.

A mulher afirmou certa feita, iria cassar a procuração outorgada; a filha, contudo, ao ouvir isto, lhe disse que se ela tentasse, iria conseguir um laudo médico declarando ser a mãe portadora de insanidade mental e, portanto, incapaz de gerir os bens que possuía.

Combalida, estupefata pela atitude da moça, quedou-se a pensar no dia do nascimento da filha, na primeira infância, nos seus primeiros estudos, nas peraltices de criança, e na triste metamorfose ocorrida...

Desejou morrer...

A partir de então, não teve ânimo para nada mais.

Permaneceu por mais uns meses naquela casa, depois pediu para ser internada num asilo de velhos, onde, por certo, ficaria longe daquela megera em que se transformara sua filha.

Assim, a senhora aguarda, naquele abrigo de idosos, o ocaso de sua vida...

Entretanto, não deveria ser desta maneira, mas, a falta de sensibilidade, a ingratidão, a cristalização do sentimento deixou-a em tal estado.

Até quando tantos portarão dureza de coração, obliterando o sentimento, ocasionando fatos deprimentes?

Até quando?...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 23/12/2010
Reeditado em 23/12/2010
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